quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

50 anos de Design no Brasil





E
m dezembro de 2012 se comemoram os 50 anos de estabelecimento da primeira Escola Superior de Desenho Industrial da América Latina. No dia 5 daquele mês foi assinado o Decreto de criação da ESDI, hoje é filiada a UERJ Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e que viria a funcionar no inicio de 1963. Por volta desta mesma época era criada a sequência de disciplinas de design na FAU/USP, consolidando assim a formação sistemática de profissionais de Design neste país. Um longo percurso, para uma ideia que se mostrou adequada desde sua primeira hora, quando se planejava o desenvolvimento e a autonomia da realidade industrial da nação.

Mais do que contar a historia desta saga queremos apenas comentar e refletir sobre alguns fatos que marcaram esta trajetória e especialmente abordar o papel de alguns dos pioneiros deste processo, que em muitos casos foram pouco lembrados ou pouco estudados em sua atuação.

Há uma relação direta da ESDI com quatro participantes deste processo, que são Karl Heinz Bergmiller, Aloísio Magalhães, Alexandre Wollner e Goebel Weyne. Todos participantes, desde a primeira hora do grupo de trabalho que formatou a ESDI. Dois deles, Aloísio e Wollner tem extensa bibliografia publicada. São estudados e reestudados em diversos contextos, além de possuírem textos de próprio punho publicados, bem como uma extensa produção profissional reconhecida e registrada.

  No caso de Bergmiller e Goebel há em verdade uma escassez tanto de estudos como de publicações que tornem clara a sua participação neste processo, bem como do registro de sua produção profissional. Nunca entendi esta diferença e ainda me surpreendo com a falta de interesse de nossos acadêmicos por esses dois protagonistas desta história. Sem desmerecer a contribuição de Aloísio e Wollner considero que há uma injustiça histórica neste processo de reconhecimento quanto a Bergmiller e Goebel.

Como participante das primeiras turmas da ESDI, posso afirmar que a presença mais assídua dos dois e sua influencia no dia a dia da instituição foi marcante. Os dois sempre tiveram uma vida profissional em paralelo a sua atuação acadêmica, mas não com tanto envolvimento como no caso de Aloísio e Wollner, que comandavam, já na época, escritórios de algum porte, no Rio e em São Paulo. O acompanhamento das atividades didáticas na ESDI era prevalecente em Bergmiller e Goebel, especialmente quando o primeiro se instalou do modo definitivo no Rio de Janeiro em 1966, vindo de São Paulo. Pouco depois com a criação do IDI/MAM em 1968, um braço de pesquisa da ESDI por assim dizer, houve total integração da atividade didática com a profissional, o que se refletiu no envolvimento cada vez maior dos alunos da ESDI nas atividades deste instituto e em especial com Bergmiller e Goebel, seus fundadores.

Nas Bienais de 68, 70 e 72 a participação da ESDI e de seus alunos foi marcante bem como em outras atividades do IDI, como as exposições temáticas, os projetos do Manual de Embalagens e seus desdobramentos, o projeto do Mobiliário Escolar, somente para mencionar os principais. Estes projetos forneciam uma quantidade de estágios aos egressos da ESDI, coisa rara naqueles tempos especialmente em nossa cidade.

Talvez, pelo fato de não terem produção textual efetiva, a trajetória de Bergmiller e Goebel não tenha merecido estudo mais aprofundado. Sua obra é mais objetiva e pragmática, sob a forma de orientações, produtos, pesquisas, eventos e mensagens gráficas, o que resultou em registros, na publicação e numa repercussão mais fragmentada, mas nem por isso menos importante.

O trabalho de Bergmiller e Goebel urge ser melhor estudado, esmiuçado e registrado como uma parte fundamental da formação do design neste país. Seja em sua participação nos mais de 30 anos da ESDI, seja em sua contribuição para formação de centenas de profissionais que com eles conviveram, dentro ou fora dela, seja nos produtos e mensagens que criaram e que marcaram o design brasileiro de forma tão indelével.

São 50 anos de continua participação na formação do Design neste país, o que não é pouca coisa!!!

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Design: tanto bate até que fura!


No Natal ganhei um belíssimo relógio Swatch de presente. Já tive diversos, sempre do mesmo modelo básico, em acabamentos e cores diferentes.  É uma peça clássica no pulso de um designer. Pois não é que ele foi “aperfeiçoado” e agora vem com especial coletor de suor na pulseira!
Detalhe da pulseira
Depois de um dia de uso, em nosso verão tropical, a pulseira passa a ter um cheiro insuportável ocasionado pelo suor acumulado juntando poeira e outras bactérias. Os designers acrescentaram umas nervuras na parte interna da pulseira plástica, sempre lisa nos modelos anteriores, que faz a poeira e suor se acumular nas mesmas de forma inexplicável. Agora temos que lavar o relógio dia sim e outro também para poder usá-lo de forma adequada, sem vexames ou repulsas.

Olha o calor saindo!
Sempre me perguntei por que nós designers temos que “contribuir” de forma errada para o aperfeiçoamento dos produtos que desenhamos ou redesenhamos.  Como exemplo, temos o novo porta-filtros de papel de café da Melitta. Ele sempre teve um design elegante e adequado, feito por designers brasileiros, que foram premiados há alguns anos atrás no Premio Design do MCB.  Esta nova versão tem uma “janela” na parte inferior que a publicidade declara ser para se “ver o café passando”! Ora sabemos que café deve manter-se o mais aquecido possível ao entrar na garrafa térmica. Com esta janela agora temos como ver, mas também como esfriar o café durante o processo de armazená-lo!!!  Na publicidade vê-se o calor indo, indo, indo!

Gol Geração VI
Mesmo em grandes montadoras há situações semelhantes. Foi lançado no ano passado um novo modelo, geração VI, do automóvel Gol da Volkswagen,  grande sucesso no mercado brasileiro.  Neste modelo redesenhado temos agora menor espaço no banco traseiro, um porta malas menor e um vidro traseiro também com menor visibilidade devido às colunas e sua inclinação. Sabemos que esses eram pontos fracos do Gol em todos modelos anteriores, mas precisava piorar??? 
Gol Geração V


Quando se observa outro modelo da empresa o Fox, fica evidente que eles sabem como resolver estes problemas. Então por que cargas d’água os designers, e também os executivos da empresa, não adotam o principio de que aquelas soluções de espaço e dimensionamento são universais?


Outro exemplo: a nova geração de caixas automáticos do Banco Itaú, um banco que prima por utilizar o design como característica de sua atuação no mercado.  São os modelos que estão sendo instalados nas antigas agencias do Unibanco, ao serem reformadas. A começar pela cor, que antes era uma combinação harmoniosa de cinzas e azuis, ela foi substituída por um tom de prata fosco e texturizado. Todos os terminais ficam engordurados com o uso e sujos quase que instantaneamente, pedindo uma manutenção diária impossível de ser feita. Além disso mudaram o ângulo das telas, agora maiores, que causam uma paralaxe, dificultando a leitura e a digitação por parte dos clientes. O ângulo anterior era dirigido aos olhos do usuário, os atuais são dirigidos ao peito do usuário, o que dificulta o “touch screen”. Os novos modelos não possuem mais uma superfície para apoio de documentos, cartões de credito ou recibos emitidos pela maquina. Além disso tiveram os locais de colocação de cartões e retirada de dinheiro totalmente alterados, em relação aos anteriores, o que sempre confunde os clientes, como pode ser observado, em cinco minutos de observação in loco!

Ângulos de tela diferentes?
Para finalizar e como exemplo mor desta tendência, temos a linha de veículos Adventure fabricados pela Fiat no Brasil. Essa linha que se caracteriza por ter acabamentos mais rústicos nas extremidades da chapa, protegidos por elementos plásticos, vem se alterando de geração em geração. Como a base da carroceria é a mesma, o que se altera são os elementos plásticos na frente, traseira  e nas laterais junto aos para lamas. O aumento progressivo do volume destas peças passou a ser disforme, parece que vai tomar conta dele e pedem adaptações, como os recortes junto à tampa de combustível que beiram o grotesco! Em qualquer análise formal mais cuidadosa destes detalhe, eles seriam classificados como verdadeiros defeitos do design!!! Fica então a pergunta: será que os competentes designers da Fiat em Betim não notaram isso? Ou será que fizeram de propósito para chocar o observador, o usuário ou os concorrentes. Confesso que não entendo!


Bonito ou exagerado nos defeitos???
O design e seus praticantes, têm uma faceta um pouco questionável, onde as modificações tem que ser introduzidas por razões de “mercado” ou de “tendências”.  A necessidade de redesenho com o objetivo de dar sobrevida a modelos ou produtos, nos faz sacrificar o que se objetiva, que é o valor agregado intangível do design na nossa cultura material. Design “demais” pode na verdade, e em nome da “personalidade”, chegar ao ponto de retirar a qualidade e pecar pelo excesso, alterando forma e função, negando assim sua própria essência.
Em nossa sociedade industrial globalizada o design parece estar ressuscitando o velho Styling e sua rápida obsolescência, que aparentemente abandonamos nos anos 60 do século passado. Será essa a pedra de toque deste novo milênio?
Espero sinceramente que não!