Uma pergunta que é feita com frequência
é se devemos ter o design dentro da empresa ou se podemos ter apenas o design
contratado, quando necessário. É claro que cada caso é um caso, mas tendo em
vista as experiências que observamos em empresas de diversos portes podemos elaborar algumas considerações úteis que tentem formular uma resposta essa pergunta,
especialmente nesta época de terceirização desbragada..
Há empresas que se utilizam
intensamente de design e há aquelas que se utilizam do design de forma
intermitente. Há empresas que mesmo que se utilizem do design de forma
intermitente necessitam de um acompanhamento de sua aplicação no dia a dia. Há
empresas que, por razão de custos, necessitam racionalizar a aplicação do
design em suas operações, como as micro empresas, por exemplo. Na medida em que
o design é um fator de qualidade que a empresa oferece em sua operação, ele
necessita ser acompanhado da mesma forma que qualquer outra característica de
seu funcionamento. Isso somente será possível, com o design como facilidade ‘in
house”. Isto é: um profissional, ou uma equipe, que pertença ao "staff" de
empresa de forma permanente, o que pode ou não ser possível dependendo de seu
porte.
Empresas de uso intensivo de design
optam, por razões funcionais e econômicas, em ter um “staff” interno, na forma
de um departamento que desenvolva todas as suas necessidades referentes ao
design. A eficiência de ter esta equipe à mão, sempre que precisar, é notória e óbvia. Mas é patente que isso somente é factível se ela tiver algum porte.
Empresas de grande porte, como no caso das montadoras automobilísticas ou nas
multinacionais de eletrodomésticos, por exemplo, possuem grandes departamentos
de design com dezenas de profissionais e boas facilidades de uso, como estúdios
bem equipados e oficinas de suporte. As automobilísticas tem até Vice
Presidências para o setor.
Isso nem sempre é possível em empresas
médias ou pequenas. A estas resta contratar um profissional autônomo ou um
escritório de design para atender as suas necessidades de projeto. Podem existir
situações onde profissionais ou escritórios sejam também contratados por
empresas que possuem design interno, mas para atender a demandas especificas ou
pontuais, que não possam ser atendidas por seu pessoal interno, por não possuírem
uma especialidade especifica ou mesmo em momentos de grande solicitação.
Um exemplo histórico nos foi dado por
Aloísio Magalhães, um dos pioneiros do design brasileiro. Criador de imagens
empresariais emblemáticas e famosas como da Souza Cruz, de Furnas, do Banco
Nacional ou do Jornal do Brasil, em seu escritório. Ao implementá-las conseguia
que um ex-funcionário seu fosse contratado pela empresa em questão. Isso fez
surgir, em cada empresa, um pequeno departamento que zelava pela correta
preservação e manutenção da imagem criada, quanto ao projeto original bem como
resolvia problemas “had oc” que pudessem aparecer durante a implantação ou em
situações subseqüentes. Na sua maioria estes departamentos cresceram e se
tornaram permanentes e atuaram de forma muito eficiente ao longo dos anos.
Infelizmente estes bons exemplos nem
sempre são seguidos. Como exemplo, tomemos o Metro do Rio de Janeiro. A empresa
possuía uma imagem empresarial da época de sua inauguração, que foi atualizada
quando de sua privatização. Desde então a empresa contratou designers de
notório saber para reestudar essa imagem como os escritórios Design Redig, Ana
Couto Design e mais recentemente Crama Design. Esta última implantou recentemente uma novíssima sinalização nas principais estações de suas linhas.
No que pese a qualidade dos projetos
implementados, o que se observou até aqui é a falta de um staff interno de
design na empresa, que não zelou pela integridade da implantação destes
projetos, alguns deles abandonados precocemente. As estações, os guichês e
carros dos trens ostentam inúmeros itens de projetos anteriores, que são
visivelmente incompatíveis com o projeto atual. Há placas da primeiríssima
versão da imagem do Metro, convivendo com itens de sinalização de todos os
projetos subseqüentes causando um verdadeiro caos visual que muitas vezes
confunde os usuários deste meio de transporte, tão essencial à uma metrópole
como Rio de Janeiro.
Observamos incoerência cromática em
várias situações, uma falta de iluminação adequada sobre a sinalização, há
divergências nas alturas de aplicação de determinados sinais, há estações
que não podem ser identificadas pelos usuários de dentro dos trens, há
situações de luz diurna e outras de luz artificial nem sempre constante, enfim
uma situação muito complexa de design. Esta situação dificilmente será
resgatada pelo projeto novo, devido justamente a falta do design interno na
empresa, que não só zele pelo projeto da vez mas que, antes de mais nada,
levante as situações diversas do problema, testando soluções ou adaptando-as
caso a caso.
Por melhor que seja o projeto deste
porte não há como um designer externo implementá-lo corretamente sem suporte
interno efetivo, permanente e incondicional. Daí a falta que faz um
departamento, ou uma equipe interna para suprir esta função.
Empresas com grande uso de design, multinacionais ou proprietários de marcas famosas freqüentemente tem suas próprias equipes de design. O pensamento por traz disso varia: algumas empresas mantém, ou mantiveram, equipes por muitos anos. Hoje em dia abandonam este conceito e agora utilizam serviços terceirizados. Não há duvida, porém que a vantagem de se ter uma equipe “in house” se deve a sua familiaridade com o produto e na expertise adquirida.
Muitas dessa equipes estão envolvidas principalmente com problemas de desenvolvimento técnico e engenharia, mas ainda são adeptas do design. Seus conceitos de design serão certamente discutidos com os departamentos de produção e com fornecedores, promovendo-se a partir daí soluções de design perfeitamente factíveis.
Designers gráficos e de produto podem ser parte da equipe “in house”, dependendo das atividades da empresa. Como recurso interno da empresa seu tempo deve ser plenamente utilizado. Talvez por isto, raramente tenham o tempo para fazer pesquisas ou se envolver na avaliação de mercados. Isso pode ser uma generalização injusta, mas parece que há freqüentemente um talento domestico não descoberto por pressões das tarefas do dia a dia.
Os designers fora da empresa têm a
vantagem de uma visão fresca além do entusiasmo por um novo desafio. Trabalhar
dentro freqüentemente parece produzir soluções mais seguras do que conceitos de
maior desafio. Onde isso ocorre há um problema gerencial. Se equipes de design
“in house” receberem o mesmo estimulo e recursos que as consultorias externas,
elas certamente contribuirão de forma mais efetiva para as empresas que as
empregam.
O uso de um designer consultor pode
ser um reforço ao departamento interno da empresa. Há uma complementaridade
entre os dois. Como o designer interno fica muito atarefado com as atividades
do dia-a-dia, um consultor externo pode servir de provocador de novos projetos,
um reforço para o “in house” especializado, valorizando-o inclusive.
E então? Design interno ou externo? Depende,
de cada empresa ou caso!
Os dois sempre estarão presentes, quando conveniente!
Texto não publicado. Junho 2015