quinta-feira, 2 de julho de 2015

Design interno ou externo?


Uma pergunta que é feita com frequência é se devemos ter o design dentro da empresa ou se podemos ter apenas o design contratado, quando necessário. É claro que cada caso é um caso, mas tendo em vista as experiências que observamos em empresas de diversos portes podemos elaborar algumas considerações úteis que tentem formular uma resposta essa pergunta, especialmente nesta época de terceirização desbragada..

Há empresas que se utilizam intensamente de design e há aquelas que se utilizam do design de forma intermitente. Há empresas que mesmo que se utilizem do design de forma intermitente necessitam de um acompanhamento de sua aplicação no dia a dia. Há empresas que, por razão de custos, necessitam racionalizar a aplicação do design em suas operações, como as micro empresas, por exemplo. Na medida em que o design é um fator de qualidade que a empresa oferece em sua operação, ele necessita ser acompanhado da mesma forma que qualquer outra característica de seu funcionamento. Isso somente será possível, com o design como facilidade ‘in house”. Isto é: um profissional, ou uma equipe, que pertença ao "staff" de empresa de forma permanente, o que pode ou não ser possível dependendo de seu porte.

Empresas de uso intensivo de design optam, por razões funcionais e econômicas, em ter um “staff” interno, na forma de um departamento que desenvolva todas as suas necessidades referentes ao design. A eficiência de ter esta equipe à mão, sempre que precisar, é notória e óbvia. Mas é patente que isso somente é factível se ela tiver algum porte. Empresas de grande porte, como no caso das montadoras automobilísticas ou nas multinacionais de eletrodomésticos, por exemplo, possuem grandes departamentos de design com dezenas de profissionais e boas facilidades de uso, como estúdios bem equipados e oficinas de suporte. As automobilísticas tem até Vice Presidências para o setor.

Isso nem sempre é possível em empresas médias ou pequenas. A estas resta contratar um profissional autônomo ou um escritório de design para atender as suas necessidades de projeto. Podem existir situações onde profissionais ou escritórios sejam também contratados por empresas que possuem design interno, mas para atender a demandas especificas ou pontuais, que não possam ser atendidas por seu pessoal interno, por não possuírem uma especialidade especifica ou mesmo em momentos de grande solicitação.

Um exemplo histórico nos foi dado por Aloísio Magalhães, um dos pioneiros do design brasileiro. Criador de imagens empresariais emblemáticas e famosas como da Souza Cruz, de Furnas, do Banco Nacional ou do Jornal do Brasil, em seu escritório. Ao implementá-las conseguia que um ex-funcionário seu fosse contratado pela empresa em questão. Isso fez surgir, em cada empresa, um pequeno departamento que zelava pela correta preservação e manutenção da imagem criada, quanto ao projeto original bem como resolvia problemas “had oc” que pudessem aparecer durante a implantação ou em situações subseqüentes. Na sua maioria estes departamentos cresceram e se tornaram permanentes e atuaram de forma muito eficiente ao longo dos anos.

Infelizmente estes bons exemplos nem sempre são seguidos. Como exemplo, tomemos o Metro do Rio de Janeiro. A empresa possuía uma imagem empresarial da época de sua inauguração, que foi atualizada quando de sua privatização. Desde então a empresa contratou designers de notório saber para reestudar essa imagem como os escritórios Design Redig, Ana Couto Design e mais recentemente Crama Design. Esta última implantou recentemente uma novíssima sinalização nas principais estações de suas linhas.

No que pese a qualidade dos projetos implementados, o que se observou até aqui é a falta de um staff interno de design na empresa, que não zelou pela integridade da implantação destes projetos, alguns deles abandonados precocemente. As estações, os guichês e carros dos trens ostentam inúmeros itens de projetos anteriores, que são visivelmente incompatíveis com o projeto atual. Há placas da primeiríssima versão da imagem do Metro, convivendo com itens de sinalização de todos os projetos subseqüentes causando um verdadeiro caos visual que muitas vezes confunde os usuários deste meio de transporte, tão essencial à uma metrópole como Rio de Janeiro.

Observamos incoerência cromática em várias situações, uma falta de iluminação adequada sobre a sinalização, há divergências nas alturas de aplicação de determinados sinais, há estações que não podem ser identificadas pelos usuários de dentro dos trens, há situações de luz diurna e outras de luz artificial nem sempre constante, enfim uma situação muito complexa de design. Esta situação dificilmente será resgatada pelo projeto novo, devido justamente a falta do design interno na empresa, que não só zele pelo projeto da vez mas que, antes de mais nada, levante as situações diversas do problema, testando soluções ou adaptando-as caso a caso.

Por melhor que seja o projeto deste porte não há como um designer externo implementá-lo corretamente sem suporte interno efetivo, permanente e incondicional. Daí a falta que faz um departamento, ou uma equipe interna para suprir esta função.

Algumas considerações sobre tipos de aplicação e de empresa.
Empresas com grande uso de design, multinacionais ou proprietários de marcas famosas freqüentemente tem suas próprias equipes de design. O pensamento por traz disso varia: algumas empresas mantém, ou mantiveram, equipes por muitos anos. Hoje em dia abandonam este conceito e agora utilizam serviços terceirizados. Não há duvida, porém que a vantagem de se ter uma equipe “in house” se deve a sua familiaridade com o produto e na expertise adquirida.
Muitas dessa equipes estão envolvidas principalmente com problemas de desenvolvimento técnico e engenharia, mas ainda são adeptas do design. Seus conceitos de design serão certamente discutidos com os departamentos de produção e com fornecedores, promovendo-se a partir daí soluções de design perfeitamente factíveis.

Designers gráficos e de produto podem ser parte da equipe “in house”, dependendo das atividades da empresa. Como recurso interno da empresa seu tempo deve ser plenamente utilizado. Talvez por isto, raramente tenham o tempo para fazer pesquisas ou se envolver na avaliação de mercados. Isso pode ser uma generalização injusta, mas parece que há freqüentemente um talento domestico não descoberto por pressões das tarefas do dia a dia.

Os designers fora da empresa têm a vantagem de uma visão fresca além do entusiasmo por um novo desafio. Trabalhar dentro freqüentemente parece produzir soluções mais seguras do que conceitos de maior desafio. Onde isso ocorre há um problema gerencial. Se equipes de design “in house” receberem o mesmo estimulo e recursos que as consultorias externas, elas certamente contribuirão de forma mais efetiva para as empresas que as empregam.

O uso de um designer consultor pode ser um reforço ao departamento interno da empresa. Há uma complementaridade entre os dois. Como o designer interno fica muito atarefado com as atividades do dia-a-dia, um consultor externo pode servir de provocador de novos projetos, um reforço para o “in house” especializado, valorizando-o inclusive.

Nas microempresas não há a possibilidade de se empregar um designer interno de forma permanente. Elas são sempre candidatas ao uso de consultores ou designers externos ou a comprar os serviços de design no momento de sua necessidade. É mais econômico e eficiente, pois ele pode ser utilizado somente quando necessário, economizando-se um custo permanente. O uso de um designer consultor pode ser útil nesta necessidade localizada, na procura temporária de outras especialidades ou ainda como um reforço em tempos de muitos projetos.
E então? Design interno ou externo?  Depende, de cada empresa ou caso!

Os dois sempre estarão presentes, quando conveniente!


Texto não publicado. Junho 2015

Um comentário:

  1. Um assunto correlato a este texto:
    http://www.fastcodesign.com/3048192/why-are-design-firms-stagnating

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