No Natal ganhei um belíssimo relógio Swatch de presente. Já
tive diversos, sempre do mesmo modelo básico, em acabamentos e cores
diferentes. É uma peça clássica no pulso
de um designer. Pois não é que ele foi “aperfeiçoado” e agora vem com especial coletor de suor
na pulseira!
Depois de um dia de uso, em nosso verão tropical, a pulseira passa
a ter um cheiro insuportável ocasionado pelo suor acumulado juntando poeira e
outras bactérias. Os designers acrescentaram umas nervuras na parte interna da
pulseira plástica, sempre lisa nos modelos anteriores, que faz a poeira e suor se acumular nas mesmas de forma inexplicável. Agora temos que
lavar o relógio dia sim e outro também para poder usá-lo de forma adequada, sem
vexames ou repulsas.
Detalhe da pulseira |
Olha o calor saindo! |
Sempre me perguntei por que nós designers temos que “contribuir”
de forma errada para o aperfeiçoamento dos produtos que desenhamos ou
redesenhamos. Como exemplo, temos o novo
porta-filtros de papel de café da Melitta. Ele sempre teve um design elegante e adequado,
feito por designers brasileiros, que foram premiados há alguns anos atrás no
Premio Design do MCB. Esta nova versão
tem uma “janela” na parte inferior que a publicidade declara ser para se “ver o
café passando”! Ora sabemos que café deve manter-se o mais aquecido possível ao
entrar na garrafa térmica. Com esta janela agora temos como ver, mas também
como esfriar o café durante o processo de armazená-lo!!! Na publicidade vê-se o calor indo, indo,
indo!
Gol Geração VI |
Gol Geração V |
Quando se observa outro modelo da empresa o Fox, fica evidente que eles sabem como resolver estes problemas. Então por que cargas d’água os designers, e também os executivos da empresa, não adotam o principio de que aquelas soluções de espaço e dimensionamento são universais?
Outro exemplo: a nova geração de caixas automáticos do Banco Itaú, um banco que prima por utilizar o design como característica de sua atuação no mercado. São os modelos que estão sendo instalados nas antigas agencias do Unibanco, ao serem reformadas. A começar pela cor, que antes era uma combinação harmoniosa de cinzas e azuis, ela foi substituída por um tom de prata fosco e texturizado. Todos os terminais ficam engordurados com o uso e sujos quase que instantaneamente, pedindo uma manutenção diária impossível de ser feita. Além disso mudaram o ângulo das telas, agora maiores, que causam uma paralaxe, dificultando a leitura e a digitação por parte dos clientes. O ângulo anterior era dirigido aos olhos do usuário, os atuais são dirigidos ao peito do usuário, o que dificulta o “touch screen”. Os novos modelos não possuem mais uma superfície para apoio de documentos, cartões de credito ou recibos emitidos pela maquina. Além disso tiveram os locais de colocação de cartões e retirada de dinheiro totalmente alterados, em relação aos anteriores, o que sempre confunde os clientes, como pode ser observado, em cinco minutos de observação in loco!
Ângulos de tela diferentes? |
Bonito ou exagerado nos defeitos??? |
O design e seus praticantes, têm uma faceta um pouco
questionável, onde as modificações tem que ser introduzidas por razões de
“mercado” ou de “tendências”. A necessidade de redesenho com o objetivo de dar
sobrevida a modelos ou produtos, nos faz sacrificar o que se objetiva, que é o
valor agregado intangível do design na nossa cultura material. Design “demais”
pode na verdade, e em nome da “personalidade”, chegar ao ponto de retirar a
qualidade e pecar pelo excesso, alterando forma e função, negando assim sua
própria essência.
Em nossa sociedade industrial globalizada o design parece
estar ressuscitando o velho Styling e sua rápida obsolescência, que aparentemente abandonamos nos anos 60
do século passado. Será essa a pedra de toque deste novo milênio?
Espero sinceramente que não!