Em uma entrevista dada à algum tempo, o economista e articulista Eduardo Giannetti da Fonseca definiu o paradigma da nossa economia entre Democrática ou Oligárquica. Ele defendia a primeira, mas alertava para a nossa opção, quase que inexorável, pela segunda. Em um raciocínio paralelo aplicado ao design, tenho que concordar que sofremos do mesmo mal.
Com quase 60 anos de implementação no país, ainda não conseguimos que o design fosse reconhecido como um direito de nosso usuário. Em 2015 quando da realização de nossa última Bienal Brasileira de Design, em Florianópolis, SC, o tema da mostra era justamente "Design para Todos". Em 1997 ao participarmos do Congresso do ICSID (hoje WDO World Design Organization), em Toronto no Canadá, onde defendemos a candidatura brasileira para o Congresso de 2004, colocamos como nossa proposta de tema “Design and Social Debt" (O Design e a Divida Social). Mesmo sendo precursor e elogiado para a época, infelizmente perdemos a candidatura. Desde então, nós designers, já demonstrávamos nosso preocupação com a inserção do tópico em nossa sociedade, reapresentado em diversas reuniões profissionais ou estudantis realizadas no país.
Apesar deste tempo todo de formação de recursos humanos competentes, com dezenas de iniciativas de difusão do design ente nos, com inúmeras demonstrações de qualidade do nosso design, vencedor de prêmios internacionais, o design ainda claudica como atividade de incremento de qualidade de nossa cultura material. Temos instituições que batalham pela difusão de nossa criatividade, tanto publicas, o Museu da Casa Brasileira, em São Paulo, SP, ou o Centro Brasil Design, em Curitiba, como privadas, a MovelSul em Bento Gonçalves, além de outras mais recentes. Entretanto não há praticamente nenhuma instituição governamental que apóie permanentemente a utilização do design, de forma estratégica em nível nacional. Nossas associações profissionais têm enormes altos e baixos na sua atuação. As entidades empresariais têm também um vai e vem, no apóio a atividade. O poder público, infelizmente enxerga apenas o fator econômico como fundamental, quando se vale do design, para fomentar algum setor.
Com as crises que ciclicamente vivemos, temos agora, além da pandemia, a crescente desindustrialização de nossa economia. O design que, historicamente, vinha se "infiltrando" na indústria, no comercio, nos serviços, foi simplesmente dispensado com o argumento de economia. Isso significa que ele nunca foi considerado investimento, o que esperávamos ter acontecido. Oferecer algo melhor, nunca foi um fator de lucro, o que é o motor de nossa sociedade capitalista. Essa visão não é apenas de nossa classe empresarial de capital nacional. Muitas multinacionais instaladas aqui, que sempre se beneficiavam do competente design brasileiro, desmobilizaram sua equipes e enviaram os "brazucas" para suas matrizes, como forma de economia. Não se pode negar que a produção em escala, com criatividade nacional atendeu, atende e atenderá muito melhor as necessidades de nossa sociedade. Alem de economizar divisas com importações, que hoje são via de regra, dá e dará emprego e nos proporcionara autonomia e valor agregado a nossa produção. Na verdade é essa a verdadeira democratização do consumo, dada ao nosso usuário e a nossa sociedade.
O que sobrou então para nosso designer? Eles têm que "se virar" para sobreviver! Muitos agora desempregados abandonaram a profissão, outros foram para fora do país, tentar chances onde houvesse outras e melhores oportunidades. Muitos dos que aqui continuam a batalhar se dedicam a trabalham por valores aviltantes, ou fazendo auto produção, viraram empresários e em muitos casos terceirizam sua produção, que depois comercializam, de um jeito ou de outro, mas nem sempre com sucesso.
O que se observa é que com o achatamento do poder aquisitivo do nosso consumidor, somente sobrou a classe superior, mais esclarecida, ou mais “design conscious” e com alguma "bala na agulha". Com isso o resultado da produção de design "autoral" passou a ser cada vez mais oligárquico e exclusivo. As previsões de custo estimadas, por alguns dos concorrentes de um concurso recente de design, para seus produtos/projetos concorrendo, eram simplesmente estratosféricos, comparados a produtos reais e de mercado. A maioria alegava em seu memorial que "ele se destina a um público esclarecido e com sensibilidade ao design". É a cultura do “life style” tomando conta do design?!?! Um design oligárquico??? Temos que ter consciência do que estamos assistindo. a uma verdadeira crise de propósito do design nacional.
Temos que ter a noção que se não houver um retorno a democratização de seu uso vamos para um beco sem saída. O objetivo do design tem que levar em conta sua função abrangente, com máximo respeito a inclusão, por meio do valor social, da sustentabilidade, ergonômico, psicológico, comportamental, e de qualidade, que não pode ser apenas econômico ou de status,em qualquer mensagem ou produto produzido.
Mais do que nunca devemos voltar a ver o design com um "direito" do usuário.
"Design para viver melhor",é do que precisamos com urgência!