Tive a oportunidade recente de contribuir com a Bienal Brasileira de Design 2010. Participei da curadoria do segmento “Bienais de Design - Primórdios de uma ideia” – uma retrospectiva das bienais de design já ocorridas no pais, o que me permitiu um pequeno exercício de reflexão sobre o que temos de pioneirismo em design neste pais, e para o qual não nos damos conta.
Nos anos 60 fomos pioneiros na América Latina em criar um curso superior de design adotando o modelo da escola de ULM, o que de mais avançado existia na época, mesmo contra todos os prognósticos dos críticos desta iniciativa. No momento da formatura dos primeiros profissionais brasileiros já tínhamos uma associação nacional de fomento à profissão e a atividade, a ABDI, e já discutíamos a possibilidade da regulamentação da profissão como forma de afirmação nacional desta atividade. Desta mesma forma fomos pioneiros absolutos em realizar Bienais de design, já que não havia exposição semelhante e deste porte realizada anteriormente em outros países.
Em 1968, por iniciativa de dois designers fundadores da ESDI, Karl Heinz Bergmiller e Goebel Weyne foi criada a “Desenho Industrial 68 – Bienal Internacional do Rio de Janeiro, uma exposição emblemática da produção nacional e internacional deste setor. Na época, já era patrocinada pelos Ministérios da Indústria e do Comercio, das Relações Exteriores, da Fundação Bienal de São Paulo, além da ESDI, da FAU/USP e do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. A união destas entidades em promover e patrocinar uma iniciativa deste gênero era fruto do crença que o design teria um papel preponderante no desenvolvimento do pais, seja atendendo às necessidades de nossa sociedade, seja exportando nossa “espertize”, nossa inteligência projetual, seja afirmando a nossa cultura material, em comparação com o que se fazia nos países desenvolvidos. Exatamente igual ao que estamos tentando nos dias de hoje, mais de 40 anos depois, coincidindo com a época da Bienal Brasileira de Design 2010.
Estamos aos poucos nos dando conta do pioneirismo de nossos mestres, e de sua importância para a história do design no Brasil. Alguns deles infelizmente não estão mais entre nós, responsáveis que foram, e são ainda, pela implantação pioneira desta atividade que se firmou como colaboradora efetiva do desenvolvimento nacional, agregando de diversas formas valor à vida brasileira. Temos que reconhecer que em paralelo ao trabalho dos fundadores da ESDI, Aloísio Magalhães, Alexandre Wollner, Karl Heinz Bergmiller, Goebel Weyne: dos criadores da sequência de disciplinas da FAU/USP João Carlos Cauduro, Ludovico Martino, Lucio Grinover, Julio Katisnsky, dentre outros, houve a contribuição efetiva de pioneiros regionais e localizados, como por exemplo, Ronaldo Rego, Guilherme Bender, Rubens Sanchotene e Jorge de Menezes que foram justamente homenageados por seu trabalho pioneiro no Paraná, com exposição e livro durante a Bienal 2010. Estes foram, sem duvida, os mestres de muitos que transformaram a cultura visual e material daquele estado nos últimos anos.
Felizmente, a cultura do design se alastrou por todos os cantos do Brasil, e não apenas nas grandes capitais, o que não explica o numero de mais de 500 cursos que temos espalhados pelo pais, que esperamos assegurarão a difusão do trabalho de qualidade de outros mestres e pioneiros entre os atuais alunos e os recém formados deste cursos. Essa historia precisa ser preservada e as Bienais de Design, retomadas recentemente são um excelente veiculo para isso.
Que continuem assim para o bem de todos nós!
freddy,
ResponderExcluirparabéns pelo trabalho de resgate histórico, junto com o ivens, realizado para a bienal 2010. recebi o magnífico catálogo e ele já está fazendo sucesso aqui em cranfield!
ontem postei no meu blog algumas imagens e comentários sobre uma exposição que ajudei a promover, em 79/80, reunindo trabalhos de biônica e "tecnologias apropriadas" de estudantes da esdi, ufrj e puc. foi bom rever e refletir sobre o que fizemos há tanto tempo. acho que serve para fomentarmos discussões com os novos designers, inclusive para as (muitas) razões de termos avançado tão pouco em tanto tempo.
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