Em dezembro de 2012 se comemoram os 50 anos de estabelecimento da primeira Escola Superior de Desenho Industrial da América Latina. No dia 5 daquele mês foi assinado o Decreto de criação da ESDI, hoje é filiada a UERJ Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e que viria a funcionar no inicio de 1963. Por volta desta mesma época era criada a sequência de disciplinas de design na FAU/USP, consolidando assim a formação sistemática de profissionais de Design neste país. Um longo percurso, para uma ideia que se mostrou adequada desde sua primeira hora, quando se planejava o desenvolvimento e a autonomia da realidade industrial da nação.
Mais do que contar a historia desta saga queremos apenas comentar e refletir sobre alguns fatos que marcaram esta trajetória e especialmente abordar o papel de alguns dos pioneiros deste processo, que em muitos casos foram pouco lembrados ou pouco estudados em sua atuação.
Há uma relação direta da ESDI com quatro participantes deste processo, que são Karl Heinz Bergmiller, Aloísio Magalhães, Alexandre Wollner e Goebel Weyne. Todos participantes, desde a primeira hora do grupo de trabalho que formatou a ESDI. Dois deles, Aloísio e Wollner tem extensa bibliografia publicada. São estudados e reestudados em diversos contextos, além de possuírem textos de próprio punho publicados, bem como uma extensa produção profissional reconhecida e registrada.
No caso de Bergmiller e Goebel há em verdade uma escassez tanto de estudos como de publicações que tornem clara a sua participação neste processo, bem como do registro de sua produção profissional. Nunca entendi esta diferença e ainda me surpreendo com a falta de interesse de nossos acadêmicos por esses dois protagonistas desta história. Sem desmerecer a contribuição de Aloísio e Wollner considero que há uma injustiça histórica neste processo de reconhecimento quanto a Bergmiller e Goebel.
Como participante das primeiras turmas da ESDI, posso afirmar que a presença mais assídua dos dois e sua influencia no dia a dia da instituição foi marcante. Os dois sempre tiveram uma vida profissional em paralelo a sua atuação acadêmica, mas não com tanto envolvimento como no caso de Aloísio e Wollner, que comandavam, já na época, escritórios de algum porte, no Rio e em São Paulo. O acompanhamento das atividades didáticas na ESDI era prevalecente em Bergmiller e Goebel, especialmente quando o primeiro se instalou do modo definitivo no Rio de Janeiro em 1966, vindo de São Paulo. Pouco depois com a criação do IDI/MAM em 1968, um braço de pesquisa da ESDI por assim dizer, houve total integração da atividade didática com a profissional, o que se refletiu no envolvimento cada vez maior dos alunos da ESDI nas atividades deste instituto e em especial com Bergmiller e Goebel, seus fundadores.
Nas Bienais de 68, 70 e 72 a participação da ESDI e de seus alunos foi marcante bem como em outras atividades do IDI, como as exposições temáticas, os projetos do Manual de Embalagens e seus desdobramentos, o projeto do Mobiliário Escolar, somente para mencionar os principais. Estes projetos forneciam uma quantidade de estágios aos egressos da ESDI, coisa rara naqueles tempos especialmente em nossa cidade.
Talvez, pelo fato de não terem produção textual efetiva, a trajetória de Bergmiller e Goebel não tenha merecido estudo mais aprofundado. Sua obra é mais objetiva e pragmática, sob a forma de orientações, produtos, pesquisas, eventos e mensagens gráficas, o que resultou em registros, na publicação e numa repercussão mais fragmentada, mas nem por isso menos importante.
O trabalho de Bergmiller e Goebel urge ser melhor estudado, esmiuçado e registrado como uma parte fundamental da formação do design neste país. Seja em sua participação nos mais de 30 anos da ESDI, seja em sua contribuição para formação de centenas de profissionais que com eles conviveram, dentro ou fora dela, seja nos produtos e mensagens que criaram e que marcaram o design brasileiro de forma tão indelével.
São 50 anos de continua participação na formação do Design neste país, o que não é pouca coisa!!!