Mais uma vez somos confrontados com uma ignorância evidente dos benefícios do design para nossa sociedade e economia. Mais uma vez a CNI, Confederação Nacional da Indústria, lançou um documento destinado a promover seu desenvolvimento nos próximos anos, sem falar em design.
ACNI já esteve sintonizada anteriormente com o fomento ao design. Lançou em 1996, o premio CNI Gestão do Design, onde premiou diversas empresas pelo uso e aplicação do design na sua gestão. Foram agraciadas empresas nacionais e multinacionais presentes no país. O premio vinha no rastro das ações de diversas federações, que na época tinham alguma iniciativa em relação ao uso ou fomento ao design. As federações sempre tiveram uma política de altos e baixos (mais baixos em minha opinião) em relação ao design. A CNI parecia que iniciava uma vertente de defesa e de incentivo ao uso estratégico da ferramenta design, mas isso não se realizou.
As federações seguiram este exemplo e na sua maioria deixaram o design de lado, ignorando seu potencial estratégico e de desenvolvimento. Que se faça justiça à FIEP Federação das Industrias do Estado do Paraná, que abriga o CBD Centro Brasil Design, desde sua fundação como Centro Design Paraná. O estado e a cidade de Curitiba se notabilizam com grandes usuários e beneficiários do uso de design, da comunicação ao urbanismo.
Voltando ao documento liberado pela CNI intitulado Plano de Retomada da Industria, observamos que o design não é mencionado, e nenhum dos itens do relatório. Há uma ligeira idéia de apoio no item referente a inovação apenas. E bastante estranho que o órgão máximo de representação empresarial da industria, não mencione, sequer a possibilidade de incentivo ao ativo mais barato de inovação disponível no país. Isso demonstra mais uma vez a miopia que nossa classe dirigente tem sobre os rumos que nossa industria deve tomar.
Ao contrario deste fato temos simultaneamente uma demonstração da atividade do design sendo exercida pela classe de profissionais ativos no Brasil, a mais de 60 anos. O Premio Design Movelsul, promovido pela principal feira de mobiliário e com o patrocínio da FIERGS, também um federação ativa, que acaba de divulgar os resultados de sua primeira fase, onde participaram 575 projetos. Desses foram selecionados 228 para uma segunda fase, por meio de um júri altamente seletivo e competente.Olhando-se o catalogo divulgado dá para ver que esse júri terá dificuldade em selecionar os vencedores, tamanha a qualidade dos projetos apresentados. A indústria moveleira é uma das únicas a tirar real proveito da criatividade dos designers brasileiro, por meio deste tipo de iniciativa.
Isso não impede de termos demonstrações obtusas por parte de nossos governantes. Recentemente o governo de São Paulo decidiu fechar o Museu da Casa Brasileira, a única instituição de peso do país, a exibir e premiar regularmente o design em todas as suas vertentes. O MCB promove desde 1986, o Premio DesignMCB sendo a mais tradicional premiação do segmento de design no Brasil, realizado anualmente com o objetivo de chamar a atenção do setor industrial para a capacidade dos designers brasileiros. Fica aqui demonstrado que o setor público também ignora que o design e fundamental para o progresso cultural e econômico, em todos os setores da sociedade.
Mais uma demonstração do design ativo brasileiro foi dada pelos premiados no IF Design Award 2023. Este prêmio, considerado o “Oscar” do design mundial é promovido pela Alemanha em Hannover e contempla o que há de melhor no design mundial. O Brasil, sob organização do CBD, tem participado regular e constantemente, desde 2004 e somos recordistas em premiações, nos mais diversos setores do design. Neste ultimo ano participamos com 145 projetos/produtos, conseguimos um total de 68 prêmios, dos quais 3 foram Gold, a mais alta qualificação deste certame mundial de excelência. Não é possível que nossa entidade industrial máxima não tenha conhecimento disto e deixe de lado o item design de seu plano de “Retomada”, sabendo da qualidade de nossos profissionais.
O aumento de competitividade que o design pode trazer a qualquer ramo é conhecido e praticado por todos os países que são “players” decisivos no comércio mundial. O esvaziamento sistemático, que nossa industria sofreu nos últimos anos, poderia ter sido revertida, ou ao menos contida, se seus dirigentes tomassem a rédea de seu desenvolvimento, utilizando, dentre outros o design como diferencial.
A qualidade de nossos profissionais é reconhecida mundialmente, pois os mais qualificados tem sido recrutados para atuar em empresas globais ou em realidades onde o design faz a diferença. O país não pode prescindir da contribuição do design ao seu desenvolvimento, por mera ignorância de nossa classe dirigente, seja empresarial ou governamental. Isso é demais!
Esta na hora do Design Ativo, destronar o Ignorado e transformar nossa realidade, projetando a para o futuro!.
Texto não publicado