Um dos mestres do
design no Brasil , ao ser confrontado com um projeto de produto bastante elaborado,
mas um pouco confuso, na critita nos disse uma frase lapidar, ao avaliá-lo: “A sua avó tem
que entender”.
Lembrei-me desta frase ao constatar nos Show Rooms e nas publicações especializadas mais recentes, da profusão de lançamentos de estofados contemporâneos em bloco, tanto sofás como poltronas. São modelos constituídos por blocos compactos de formas cubistas ou orgânicas, onde a área de sentar,é um bloco até o chão. Parece ser uma tendência atual de se fazer formas mais simplificadas e compactas, como se fossem pedras monolíticas, com encosto e sem braços, onde o usuário senta a trinta centímetros do chão, ou menos.
Parafraseando meu mestre eu diria “Sua avó tem que sentar!” O que temos são verdadeiras maquinas de não se levantar. Já tentaram se levantar de um destes? Ainda mais quando não tem braços? Ou se é feito inteiramente de espuma, sem uma estrutura interna? Um verdadeiro suplício, ou um vexame, como presenciei em inúmeros casos.
O design moderno parece que esqueceu um dos preceitos de sua existência. Dar conforto aos assentos que produz. Muitos acham que os ditames da Ergonomia sobre alturas de conforto e outras dimensões sugeridas na literatura não tem validade. Grande parte dos nossos profissionais não sabe o que significa “percentil”, termo muito freqüente em qualquer texto sobre Ergonomia.
Como todos sabem, a população brasileira esta envelhecendo de forma rápida. Temos tido sérios problemas de saúde e sofremos com o etarismo de nossa população. Será que quando um idoso for comprar um estofado terá que ouvir “Você não tem mais idade para isso?”
Muitos acreditam que a espuma, ou outro material de estofamento, quanto maior o volume melhor o conforto.Isso já foi desmentido por todos os especialistas. O designer Michel Arnoult já pontificava que há o “conforto duro” mas ergonomicamente correto. Quem já sentou em um sofá de alvenaria, muito comum nos anos 60, sabe que espuma não salva a dureza ou uma ergonomia ruim.
Entretanto espuma em estofamento é sinal de conforto. Um dos problemas da espuma é sua origem: se modelada, a partir de blocos, ela deforma rápido, se injetada tem maior durabilidade, mas maior custo. Esse é outro problema: o custo!, os componentes da espuma têm origem no petróleo, que varia com o dólar. Quanto mais espuma, mais caro é o resultado. Reduzir a altura pode significar economia, mas e a funcionalidade, onde fica?
As lojas de decoração e os “estofados da TV” fazem a cabeça dos usuários. As “formas de sentar, à paulista” ou “ à carioca” podem também ser definidoras. As formas fluidas que tem se popularizado mais como uma expressão do designer, do que um produto para o usuário, tem uma tendência à última. Pior, a maioria não tem braços, nem um recesso obrigatório na parte inferior do assento, junto ao chão, o que torna o levantar menos fácil ainda. Muitas vezes o encosto é muito baixo e tambem não ajuda.
Le Bambole com Mario Bellini - Anos 70 - B&B |
No inicio dos anos 70, fomos visitar o designer italiano Mario Belllini em Milão.Tivemos o privilégio de ver o protótipo de seu famoso estofado, criado para a empresa B&B Itália, “Le Bambole”. Um modelo orgânico, todo feito em espuma injetada, sobre uma estrutura metálica invisível, que está a 50 anos no mercado, com grande sucesso. È desses que você é convidado a se jogar, ao sentar. Lembro-me de ele ter mencionado que era um produto para te envolver, mas que tinha incluído braços, estruturados para ajudar ao se levantar, além da altura do assento ser mais alta.Um autêntico estofado contemporâneo mas com todos os bons princípios de design e ergonomia.
Le Bambole com Mario Bellini - 2022 - B&B |