- Desde quando você
começou a trabalhar no projeto?
Ao me aproximar da
graduação, ao final dos anos 60, já discutíamos na ESDI as conseqüências de se
profissionalizar. Eu e colegas que se formaram nas primeiras turmas já fazíamos
tentativas junto ao CREA para conseguirmos um registro profissional, assim como
os arquitetos e engenheiros. O primeiro projeto enviado a Câmara data de 1980 e
já tínhamos uma associação profissional/promocional em funcionamento que apoiou
esta iniciativa, mas sem sucesso.
A atual ofensiva
começou em 2003 quando do último projeto, de autoria do então Dep. Eduardo Paes
PSDB/RJ, (hoje prefeito do Rio) que tramitava em sua primeira comissão do
Congresso, recebeu num mesmo dia parecer favorável e contrário, de sua relatora
a Dep. Iara Bernardi do PT/SP. Iniciamos uma ofensiva com um abaixo assinado,
promovido por várias associações de classe que reuniu mais de 60.000
assinaturas. Isso não adiantou muito pois foi arquivado, antes de sua primeira
audiência pública. Logo que isso aconteceu, iniciamos uma discussão mais ampla
a fim de produzir um projeto mais adequado do que o último e que representasse
melhor a classe, junto a sociedade. Daí
o projeto atualmente em tramitação.
- Por que você
defende esse projeto?
Vivemos em um país
onde tudo é regulamentado, até as leis, por maior que isto seja um
contra-senso. Temos esta tradição e esta cultura. Mesmo que não se goste disso
temos que conviver com essa nossa realidade muito peculiar, forçados e a
contragosto. É comum se falar em leis não estarem em vigor, mesmo assinadas e
publicadas, pelo fato de não estarem regulamentadas. Talvez por isto tenhamos
este péssimo hábito de leis que pegam ou não pegam, não sei. Toda a nossa
estrutura é montada em cima deste fato. O design para existir como profissão
plena, também precisa ser regulamentado, como qualquer outra profissão
semelhante. Depois de mais de 30 anos de luta os designers merecem isso!
- Quais serão os
benefícios dele?
O designer passará a
ter registro profissional e a existir de fato como qualquer outra
profissão. Passará a ter direito a planos de carreira e de aposentadoria no
poder público (municipal, estadual e federal), pois estes são grandes usuários
especialmente de design gráfico; poderá participar de concursos públicos,
concorrências e licitações (o que atendem especialmente a esse setor); poderá
assinar uma ART - Anotação de Responsabilidade Técnica e poderá ser
responsabilizado perante o Código do Consumidor (o que atende aos clientes do
designer bem como aos consumidores em geral); poderá ser perito em ações de
propriedade intelectual, especialmente referentes a design (o que atende aos
próprios profissionais e seus clientes); poderá ser banido da profissão se
utilizar de atitudes antiéticas, como plagio por exemplo, reduzindo-se assim o
risco de sua utilização (design é uma profissão de risco), dentre outras
vantagens para a sociedade como um todo.
- Não vai
burocratizar demais a profissão?
O grau de
burocratização é o mesmo que envolve o uso de engenheiros, arquitetos ou
advogados. Estes custos já são absorvidos por todos e continuarão a sê-lo. Hoje
o poder público tem que se utilizar de intermediários, como as agências de
publicidade, para contratar design. Só ai, com a contratação direta, se
economizará pelo menos 15%, que é a taxa mais comum cobrada pelos publicitários,
na intermediação, de serviços junto ao poder público.
- Não é um caminho
inverso? O jornalismo acabou de desregulamentar a
profissão?
Acontece que o
jornalismo é diametralmente oposto do design. A formação profissional é
necessária, mas a atividade de escrever para a imprensa não se limita aos
jornalistas, fato que eles fizeram valer ao longo de décadas. Qualquer
profissional especialista escreve melhor sobre sua especialidade do que um
jornalista generalista. Além disso, não há outras experiências de
desregulamentação em curso, o que demonstra o caso particular do jornalismo.
Não há como desregulamentar tudo! Mesmo em países como os USA onde não havia
regulamentação (accreditation) para o design estão
discutindo o fato, neste momento de informática generalizada onde todos podem
fazer design, quase sem restrições, mas com muitos riscos.
- A gente sabe que a
maioria dos designers acima de 40 anos não é designer e
foram eles que
fizeram a profissão se firmar. Por que
agora um arquiteto, por exemplo, não
poderá trabalhar como designer?
Não concordo com esta
afirmação. Muitos dos designers com mais de 40 anos tem formação plena em
design, já que na década de 70 já existiam 30 cursos superiores diferentes no
país. A formação em nível superior vai
completar 50 anos proximamente e tem contribuído decisivamente para o
desenvolvimento do país. É claro que houve e há uma grande contribuição dos
arquitetos ao design brasileiro, especialmente o gráfico ou de mobiliário
exclusivo, mas este é um fenômeno muito restrito a São Paulo, pela existência
até a pouco da sequência de disciplinas no curso da FAU/USP. Há uma tendência a
isso se restringir no futuro. A própria FA/USP desistiu desta filosofia e tem
atualmente um curso de Design pleno, separado do de arquitetura. Os arquitetos recém
formandos que quiserem fazer design podem fazê-lo, mas com o mesmo direito que
nós temos em fazer arquitetura. O
arquiteto brasileiro é formado para construir e não para fazer design. Se quiserem fazer design de verdade,
inscrevam-se em um dos 500 cursos disponíveis no Brasil. São mais numerosos do
que os de arquitetura (aprox .300). O projeto de lei prevê que quem exerce a
atividade mesmo não sendo formado pode se registrar, desde que prove este
exercício nos últimos 5 anos.
- O mercado também é
formado por muitos autodidatas, que também ajudaram a
firmar a profissão,
por que daqui para frente ser autodidata não vale mais?
Design é fator
estratégico para o desenvolvimento do país. Que o digam os europeus e
americanos, os japoneses, os coreanos e mais recentemente o chineses.
Precisamos é de profissionalismo e ser autodidata não é mais realista nos dias
de hoje. Há uma profusão de cursos que encurtam o seu caminho para o design e
espalhados por todo o território nacional. Não há por que optar pelo
autodidatismo que é mais penoso e demorado. Design se faz com tecnologia, com conhecimento,
com experiência e principalmente com informação e formação adequada. É assim
que contribuirá para uma sociedade melhor em termos de cultura material. Design
não é luxo ou diletantismo que pode ser suprido por curiosos ou criativos sem
compromissos assumidos com a ética e a competência. Que tal voltarmos ao
autodidatismo na odontologia, na engenharia ou no direito? Então porque no
Design???
Você não perguntou mas gostaria que soubesse
que este projeto foi elaborado por um comitê e foi assinado por representantes
das seguintes associações, algumas delas com mais de 20 anos de funcionamento:
ADG/Brasil - Associação
dos Designers Gráficos
ADP - Associação dos
Designers de Produto
AEnD - Associação do
Ensino do Design
ApDesign - Associação
Profissional dos Designers do Rio Grande do Sul
ADEGRAF - Associação
dos Designers Gráficos do Distrito Federal
APD – PE - Associação
Profissional dos Designers de Pernambuco
É a primeira vez que
temos tramitando um projeto de consenso e representativo da classe dos
Designers brasileiros!
Entrevista dada por
Email a Maria Edicy Moreira; edicy@bdxpert.com em 23/05/2011
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