Na revista Railway
Interiors deste mês anunciam que no próximo dia 15 de novembro, na Railway Interiors Expo em
Colônia, Alemanha, vai ser apresentado o novo projeto dos carros do Metrô do
Rio de Janeiro, pelo escritório francês MBDDesign. Trata-se de
um escritório de design especializado em design de transportes, notadamente
transportes ferroviários, que possui em seu currículo alguns projetos de trens
e metrôs de cidades importantes como Marselha, Nanjing e Singapura.
Ora a pergunta é porque afinal um
escritório de design francês está desenhando os carros do Metrô do Rio? Será que não temos nenhum escritório de
design habilitado em nosso país que possa fazer este tipo de projeto? Que
critérios foram utilizados para escolher o MBDDesign e não algum outro também
habilitado a realizar este projeto. Foi realizada uma concorrência pública
internacional? Foi o menor preço? Foi o notório saber? Quem decidiu pela
contratação?
Quanto isso está nos custando?
Frente Metrô Rio (V&V) |
1º Interior - Metro Rio (V&V) |
1ª Frente - Metrô SP (V&V) |
2ª frente - Metrô SP (GAPP) |
Poderíamos dizer que há uma necessidade
de renovação nestes projetos e que deveríamos optar por alguém mais sintonizado
com os novos tempos ou com novas necessidades. Neste caso porque não procurar
entre os inúmeros escritórios nacionais alguém que já tivesse uma “expertise”
próxima ao problema? Podemos lembrar, dentre outros, de Guto índio da Costa, designer
premiado que já apresentou um projeto de transporte revolucionário, ou mesmo
de Bruno Batella, designer carioca responsável pelos interiores
dos trens suburbanos do Rio, fornecidos pela Coreia. Além deles temos
inúmeros profissionais com experiência em transportes rodoviários, com uma
problemática muito próxima do transporte ferroviário, que poderiam executar um
projeto deste porte sem nenhum problema, vide exemplos de empresas de atuação
internacional como Marcopolo, Caio, Busscar, etc. Lembremos também que todas
as montadoras multinacionais de veículos têm equipes eficientes de designers
atuando no Brasil, exportando design com sucesso para outros mercados.
No caso de ainda assim necessitarmos
de “expertise” internacional deveria se procurar encontrar alguém mais
sintonizado com a realidade brasileira, já que um designer parisiense por mais
internacional que fosse teria problemas em entender o “carioca way of life”.
Podemos mencionar dois escritórios de designers experientíssimos e que conhecem
muito bem nossa realidade: Alexander Neumeister da neumeister+partner que
vive parte do ano em Munique e parte no Rio de Janeiro desde 2000, onde já
possuiu sociedade no escritório NCS Design. É um dos maiores experts em trens
do mundo e conhece como ninguém a realidade brasileira. Podemos ainda mencionar
a escritório de Thomas Haslacher, nascido e educado no Brasil, do escritório haslacher+partner, também de Munique que à
mais de 20 anos é um dos maiores especialistas no assunto. Thomas estudou por
curto período na ESDI, no Rio tendo se formado em design na Alemanha, mas com
profundas ligações com o país.
Admitamos que por qualquer outro
motivo justificável tivéssemos que trabalhar com o escritório parisiense. Neste
caso não se deveria propor uma parceria com algum escritório brasileiro, no
sentido de facilitar a transferência desta “expertise” ao país, adequando-se o
projeto a nossas características e peculiaridades? Isso com certeza facilitaria
a rápida absorção do projeto, prevendo-se novas aplicações futuras, adaptações,
manutenção e expansões necessárias, com custos menores e maior agilidade na sua
aplicação. Os chineses, que tem se utilizado largamente de design vindo do
exterior, tem feito assim, no sentido de absorver “know how” de forma rápida e
eficiente. Porque não fazemos o mesmo? Estamos perdendo mais uma oportunidade
de formar nossa própria “expertise”!
A mim parece que este caso sinaliza simplesmente
que continuamos com nosso velho pensamento colonizado, onde o futuro é, e continua
sendo, feito na metrópole. Continuamos com a síndrome do “Yes Bwana”, onde tudo
que vem de fora é sempre melhor do que as soluções nacionais que possam ser
propostas.
Quando vamos aprender que o futuro se
faz aqui e agora?!
Texto não publicado.