Design é qualidade, é conhecimento, é cultura.
Design serve para melhorar a vida, adicionando valor a nossa cultura material. Neste espaço queremos discutir alguns destes tópicos, especialmente em relação a realidade brasileira.
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sábado, 28 de maio de 2011

Designers e Associações

Os designers brasileiros tem uma história associativa de altos e baixos. Nossas associações tem muito baixa representatividade, desde seus primórdios. Quase simultaneamente ao surgimento dos primeiros cursos foi criada uma associação profissional e promocional com o objetivo de atender à necessidade corporativa dos designers. A ABDI Associação Brasileira de Desenho Industrial, estabelecida em São Paulo nos anos 60, mesmo com uma atuação intensa em seu inicio, ficou a desejar quanto a uma efetiva representatividade profissional. As associações que se seguiram também sofreram deste problema, desde a APDINS, as APDIs, a AND, bem como as até hoje existentes ADG e AEnD.

Por paradoxal que seja os estudantes tem tido um comportamento exemplar em termos de organização, especialmente com os NDesigns, Encontro Nacional dos Estudantes de Design que se realizam ininterruptamente desde 1990. É o evento itinerante da área com a maior longevidade realizado no país, sempre no mês de julho. Com a disseminação de mais de 500 escolas e cursos pelo país inteiro, os alunos se reúnem neste evento para participar de conferências, workshops, minicursos e exposições de trabalhos onde trocam suas experiências de aprendizado, em um numero de mais de 2000 participantes em média. Para organiza-lo foi criado um conselho o CONE, que se constituiu como uma associação estudantil, de representatividade nacional.

O curioso é que não há uma transferência deste envolvimento intenso dos estudantes, quando se tornam profissionais. Poucos se associam às associações existentes enfraquecendo assim a representatividade profissional,...infelizmente. Como as associações tem altos e baixos há sempre uma associação da vez, uma que funciona “melhor”do que as outras, atraindo assim o interesse de um grupo de profissionais que a ela se associam, relegando as outras a segundo plano. Tivemos desde os anos 80 o “reinado” da ADG Associação dos Designers Gráficos, o da AEnD Associação de Ensino de Design e agora temos o da ABEDESIGN Associação Brasileira das Empresas de Design. Além disto temos algumas associações menores e de âmbito restrito ou regionais, com por exemplo, a ADP Associação do Designers de Produto, a ApeDesign Associação Profissional dos Designers do Rio Grande do Sul, a ADEGRAF Associação dos Designers Gráficos do Distrito Federal, dentre outras. Todas padecem do mesmo problema, poucos sócios efetivamente participantes, pouca arrecadação e baixa atividade. Todas têm pouca ligação com os estudantes, que poderiam e deveriam ser seus futuros sócios, garantindo assim presença e representatividade junto a sociedade. Afinal nós designers existimos para servir a ela!

Isso precisa ser urgentemente revertido, com reflexos diretos na sobrevivência da profissão e dos profissionais. Uma organização forte e coesa do design pode render frutos à profissão nunca dantes imaginados. Além de, eventualmente, podermos reivindicar incentivos como carências ou redução de impostos, poderemos nos proteger quanto a uma eventual entrada de mão de obra vinda do exterior, já que há uma crise evidente cercando os países desenvolvidos. Ë possível que, com o desenvolvimento de nossa economia nos tornemos alvos de designers, vindos destes países ou mesmo de nossos “hermanos” vizinhos, tão talentosos quanto "nosotros".

Ainda teremos a questão do retorno para o associado. Esta é uma questão ainda por resolver, pois além da posição política as associações devem promover algum beneficio para atrair e manter seu quadro de associados estável. A ADG por muitos anos promoveu com sucesso as exposições bienais de design gráfico, o que nestes anos fazia crescer os seus associados adimplentes. Há outras ofertas possíveis e já tentadas, como planos de saúde, descontos em compras profissionais, publicações e aconselhamentos , assistência legal e jurídica, festas e comemorações, cadastros de profissionais e de portfólios, sem falar em sites e news letters de interesse específico e geral. Há vários casos de organização de concursos, endosso a eventos e interlocução governamental onde as associações têm promovido sua participação junto a sociedade e a classe.

Ainda temos essa pulverização entre associações especialistas e regionais ao invés de uma grande associação nacional. Sou da opinião que isso deve ser mantido por algum tempo, até a consolidação deste processo de fortalecimento. É melhor termos pequenas associações atuando de forma consistente do que uma grande associação com risco de sobrevivência por falta de associados. Nos outros países há uma tendência das associações especialistas se unirem, independente da área de atuação, o que vem acontecendo progressivamente também com as entidades mãe, ICSID, ICOGRADA e IFI, que já se utilizam de uma sede única, promovem congressos em conjunto e praticam um código de ética em comum.

Os designers brasileiros tem que se conscientizar que formam um corpo profissional, e que ao serem diplomados passam a fazer parte de uma classe que contribui para a melhoria da qualidade de vida do pais e de sua população. Essa classe precisa de respeitabilidade política, se fazer presente ante as instituições publicas ou privadas, especialmente neste momento em que temos um novo projeto de regulamentação em tramitação no Congresso.

Designers, unam-se, associem-se ou seremos tragados pelas circunstâncias, sem dó nem piedade!

É chavão mas ...“unidos jamais seremos vencidos!”

Texto não publicado

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

CNAE do Design – Uma luz no final do túnel?


Recentemente por uma portaria do IBGE foi instituído um numero de CNAE para a atividade Design. O CNAE é o Código Nacional de Atividade Econômica, que é dado a todas as atividades exercidas pelas pessoas jurídicas e serve às delegacias da Receita Federal do Ministério da Fazenda para classificar empresas constituídas e caracterizar suas atividades especificas, no CNPJ, em todo o país.

Para a atividade de “Design” o CNAE é 74.10-2/01 e compreende as atividades de "Design de Produtos". Para a atividade de “Design Gráfico e diagramação” o CNAE é 74.90-1/99 e compreende as atividades de programação e comunicação visual. Para a atividade de “Design de interiores” o CNAE é 74.10-2/02 e compreende as atividades de decoração, ambientação e design de interiores. Para a atividade de “Web Design” o CNAE é  62.01-5/00 e compreende as atividades de tudo o que se refere ao uso da internet, como ela é entendida nos dias de hoje.

Mal ou bem isso vem colocar um pouco de ordem na nossa área de atuação, já que por não sermos uma profissão regulamentada, eram constantes as dúvidas como classificar as atividades do design. Durante mais de 40 anos fomos classificados como desenhistas técnicos, como publicitários ou como decoradores, o que deu margem a inúmeros erros de classificação fiscal dependendo de como o delegado local da Receita interpretava a atividade da empresa, que constava em seu contrato social.

A atenção sobre este assunto foi despertada pela exigência do BNDES, em meados de 2010, pelas empresas que se cadastraram como usuárias de Cartão BNDES, para financiamento ao design, com a exigência de que elas tivessem o CNAE 74.10-2-01. Isso porque o BNDES tem a intenção de prestigiar e privilegiar o Design de produtos, criando assim uma insatisfação com as empresas que prestam serviços de design gráfico ou de web, por exemplo. Como se sabe em nosso país é difícil ter empresas de design muito especializadas, já que nossa economia instável requisita sermos flexíveis em nossa oferta de serviços. Todos fazemos de tudo um pouco!

O interessante é que muitas empresas que se dedicavam a design de produtos não possuíam este CNAE, mesmo tendo a descrição precisa da atividade no seu contrato social, já que foram constituídas antes desta definição. Outras empresas eram, por exemplo, escritórios de arquitetura e que praticavam o design com competência, mas sem o CNAE respectivo. Todos tiveram, ou terão, que se recadastrar e assim se enquadrar nas novas exigências para poder serem autorizadas pelo BNDES.

A partir daí haverá uma tendência em se utilizar, cada vez mais o CNAE como elemento balizador da nossa atividade em concursos, em concorrências abertas ou fechadas especialmente no âmbito do poder público. Poderá ser feita assim uma triagem das empresas destas especialidades, em pesquisas ou estatísticas, para concessão de incentivos fiscais, por exemplo, e com isso caracterizar melhor as especificidades dentro da atividade. É preciso acrescentar que cada empresa pode ter mais de um CNAE, abrangendo assim mais de uma atividade, mas isso terá que ser requisitado pela empresa, desde que as atividades constem explicitamente de seu contrato social.

O uso do CNAE pode finalmente colocar nossa atividade em um trilho comum de qualidade, o que nos beneficiará, eliminado as empresas de outras áreas que cada vez mais invadem a nossa praia. Infelizmente ele só se aplica a pessoas jurídicas, não atendendo as necessidades do profissional isolado, autônomo ou empregado, que ainda carece de uma regulamentação real que o torne um profissional pleno e digno, com todos os direitos e deveres de seus colegas arquitetos ou engenheiros.
Mas pelo menos já é uma luz no final do Túnel!!!

Ref. http://www.cnae.ibge.gov.br  -  atividades profissionais e científicas

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Dicas para um Jovem Designer. Ou tudo o que você sempre quis perguntar, mas nunca lhe responderam.

Uma carreira e uma reputação se iniciam
Muito bem, você passou pelo rolo compressor do vestibular, depois de muitas dúvidas escolheu a carreira de design, e agora espera que a faculdade possa lhe dar uma formação que lhe garanta uma carreira promissora e de muito sucesso.

Será que vai dar certo? Bom, depende...de você, da faculdade e das circunstâncias.
É necessário que você tenha consciência que sua carreira começou no momento em que você pisou na porta da faculdade. E mais importante ainda é saber que começou a se construir a sua reputação.

Sua responsabilidade e o destino
Bom e daí? Antes de mais nada é importante que você se identifique com o Design, qualquer que seja a qualidade do curso que você esteja fazendo. Também é muito importante que você saiba que não existe faculdade ou curso ideal, todos têm problemas, e em nosso país estes problemas podem ser crônicos. Ainda assim é o que você tem a mão. É nesta instituição que você vai aprender a base sobre a qual construirá a sua carreira. E quais são as suas responsabilidades em relação a isso?

A construção de uma carreira tem duas vertentes: a do que lhe é oferecido pela faculdade ou curso que você está frequentando e a sua pessoal com um envolvimento sério e decidido no aproveitamento dos seus anos de formação. Estas duas vertentes têm valor idêntico na construção de uma carreira e admitindo-se que uma delas não seja satisfatória a outra ainda terá valor suficiente para justificar um saldo profissional adequado. Você é responsável por, no mínimo, metade de sua carreira, metade da sua formação!

É bom lembrar que antes de existirem os cursos regulares de formação de designers os profissionais eram autodidatas, o que significa que cada um construía sua própria carreira e reputação. Mesmo assim muitos profissionais de qualidade foram forjados nesta época alguns dos quais foram os responsáveis pela implantação do design em nosso país. Com isto não estamos defendendo excluir a escola da formação do profissional, pois isso não seria possível nos dias de hoje. A escola serve como uma referência, como uma queima de etapas, como uma sistematização da formação do profissional, como uma importante fonte de informação para construção de uma carreira, agora e no futuro. No mínimo lhe dará um diploma.

O que é importante é saber que a carreira é sua. É sua a prerrogativa e responsabilidade de construí-la e não da escola. Ela é um veículo, um instrumento e só ajuda!

Uma formação consciente e contínua
Sua formação deve ser a mais consciente possível. Isto significa que depende de você quanto a escolha da faculdade ou escola, do seu envolvimento com ela, de seu aproveitamento, durante o curso e de tudo o mais que você empreendeu durante este período. Não se esqueça porém que sempre haverá algo mais a aprender e que sua formação não termina com o recebimento do diploma. Na verdade sua formação nunca termina, ela se prolonga por toda a sua vida e nestes dias de globalização a formação contínua é a única que pode nos garantir pleno emprego ou flexibilidade ante as mudanças que virão.

O importante é manter um vinculo permanente com sua faculdade, mesmo depois de formado. Fazer cursos complementares, de aperfeiçoamento, de extensão, de especialização de mestrado ou doutorado são opções que estarão sempre abertas. Entretanto não caia na falácia de que você vai consertar uma graduação deficiente com um mestrado ou outro curso posterior. Isto não existe!
A graduação é a pedra fundamental de sua formação, se ela não for sólida você poderá sofrer as consequências mais adiante, para as quais às vezes não há conserto. Você tem o direito a uma boa formação qualquer que seja a escola ou universidade em que estude, portanto cobre empenho e conhecimento de seus professores e mestres além de condições adequadas da instituição de ensino que você frequenta.

Ser crítico é uma das atitudes mais úteis em Design e ser crítico durante a formação só pode ajudar.

É uma questão de currículo
No momento que você começa uma carreira você inicia o seu currículo (curriculum vitae), a sua história profissional. Esta história se expressa através de um documento que tem este nome e que lhe será exigido por toda a sua vida. Se você tiver uma boa carreira terá um bom currículo e isto lhe será muito útil e vantajoso no futuro.

Como você é que constrói sua carreira seu currículo refletirá isto. Na escolha de um curso ou faculdade de qualidade, nos cursos paralelos ou nos estágios que fez, nos projetos que executou durante o curso ou fora dele, os projetos free-lance que executou, etc. O currículo deve dar todas as informações sobre suas capacidades profissionais e sobre sua carreira, deve ser seu retrato verbal, mostrando seu melhor ângulo.

É um bom exercício elaborar seu currículo, é uma forma de fazer uma revisão crítica sobre sua carreira, é um meio de avaliar seu acervo profissional além de auxiliar no planejamento dos futuros passos dela. Há varias formulas de se elaborar um currículo, o importante é lembrar que ele deve ser graficamente bem elaborado, afinal você é um designer ou um candidato a tal. Ele é seu primeiro cartão de visita. Você deve sempre ter cópias atualizadas de seu currículo disponíveis e ele deve conter seu endereço e telefone de contato. Uma entrevista pode surgir a qualquer momento e você deve estar preparado para isto!

E de portfólio
Outro item de sua apresentação profissional é seu portfólio. Nossa profissão é eminentemente visual e tudo o que projetamos tem uma expressão Bi ou tridimensional. O portfólio é seu “currículo” visual, contém todos os seus projetos em uma forma de documentação, sejam originais, reproduções, fotografias, prints, slides, vídeos, etc.

Todos os seus projetos ou exercícios feitos durante seu curso podem ser apresentados, desde que tenham qualidade. Se eles não tiverem a qualidade que deveriam ter você pode sempre refazer qualquer projeto de sua autoria. Os projetos em que participou durante seus estágios também podem ser mostrados, bem como os executados em equipe. Estes devem ser identificados claramente mencionando-se sempre os coautores e devem ser dados os créditos devidos.

Há várias formas de se montar portfólios, em pastas próprias para receber pranchas grandes, em pastas A4, em formatos especiais, em um conjunto de prints, em copias xerox, em slides ou cromos montados, etc. A pasta deve sempre existir mesmo que tenha um portfólio digital, um blog ou um site seu. Evite ter apenas um portfólio digital, nem sempre será consultado ou não abre com a qualidade que você queria, quando você mais precisa. O critério básico deve ser sempre a qualidade do trabalho em si e da sua apresentação. Nem sempre é possível apresentar os trabalhos em sua versão original, neste caso devem ser reproduzidos fotograficamente, individualmente ou em montagens de conjuntos coerentes. Modelos e maquetes devem ser documentados fotograficamente assim que estiverem prontos, o mesmo deve ser feito com originais feitos a mão, que de outra forma se deterioram muito fácil ao ser manuseados. Guarde os originais e modelos de forma a protegê-los o quanto possível da deterioração, sabendo que nem sempre isto dará certo. A documentação reproduzível, seja fotográfica ou digital, é quase tão importante como o trabalho em si já que é ela que garante sua obra para a posteridade. Documente tudo com qualidade e em mais de uma mídia, em forma de foto analógica cor e p&b, vídeo, meio digital, o que estiver ao seu alcance. Dos originais digitais tenha sempre um “Backup” em alta resolução, fora do computador, em CDs, DVDs ou em pen-drives exclusivos, por segurança. Originais se perdem ou se deterioram e a gente só descobre isto quando já é tarde.

Estágios em profusão
Os estágios são a forma mais comum de complementar sua formação e de por a prova o que você tem aprendido. A escolha de um bom estágio é tão importante quanto à escolha de uma faculdade. Devemos fazer o máximo de estágios possíveis durante nosso período de formação. Esta é uma oportunidade de aprender com quem tem mais experiência e de verificar a quantas anda o seu nível de instrumentação e conhecimento.

Mas cuidado, o estágio não substitui a formação nem a faculdade, por mais importante que ele nos pareça. O estágio deverá ser remunerado, mas não pense nele como uma forma de ganhar dinheiro, ele deverá lhe dar conhecimento e experiência. O estágio deverá sempre ser em tempo parcial e complementar à formação. Deve durar seis meses a no máximo um ano!

Ele deve ser feito somente a partir do 4º período ou do 2º ano de formação. Somente nesta fase você estará maduro e instrumentado o suficiente para tirar partido desta experiência. Você poderá aprender novas técnicas e poderá adquirir vivência profissional. Mas cuidado novamente, há estágios que são empregos disfarçados, fuja deles como puder já que não são nunca a seu favor! Eles são, na maioria das vezes, busca de mão de obra barata e qualificada, sem compromissos legais. A qualidade do estágio é fundamental. Avalie com cuidado o que está lhe sendo oferecido, não hesite em perguntar qual será sua função e que tipo de trabalho você irá executar. Você tem este direito. Um estágio de qualidade lhe será útil no currículo, e um sem qualidade apenas uma perda de tempo e de oportunidade, lembre-se disto.

Ser instrumentado, ter utilidade
Não adianta procurar um estágio em um escritório de design se você não tiver condições de contribuir para o trabalho que está sendo desenvolvido. Se você não estiver devidamente instrumentado você vai atrapalhar mais do que aprender. Um posto de trabalho em um escritório é caro e não esta disponível a quem não puder contribuir com qualidade. Procure saber antes de qualquer coisa, o que esperam de você como estagiário. O que é preciso saber para poder ser útil e contribuir efetivamente para os projetos e tarefas em que estiver envolvido.

Se você não estiver ainda instrumentado poderá fazer outros estágios de formação. Poderá passar um tempo em uma fábrica de plásticos ou em uma oficina mecânica ajudando na produção, por exemplo. Poderá se engajar em um setor que lhe interessa, em uma gráfica, em um fotolito, em um escritório de desenho aprendendo a desenhar ou ainda ajudando em uma pesquisa ergonômica. Podemos chamar a este de um estágio de instrumentação. Ele pode lhe dar muitos conhecimentos práticos, sobre materiais ou sobre produção, o que pode ser muito útil em sua vida profissional.

Concursos e mais concursos
Participar de concursos é uma ótima forma de desenvolver capacidades profissionais, de demonstrar do que você é capaz. Com a vantagem de que você pode ser até premiado, o que será uma ótima adição ao seu currículo. Além disso, sempre pode pintar uma grana ou um prêmio o que não faz mal a ninguém.

Fique atento aos quadros de avisos de sua faculdade ou às páginas das revistas especializadas ou de sites da Internet. Há sempre ótimos concursos sendo divulgados, tanto nacionais como internacionais, com bons prêmios e temáticas, tanto para estudantes como para profissionais. Além da premiação, certos concursos têm prevista uma exposição dos concorrentes e ás vezes há publicação dos resultados na imprensa ou em catálogos, o que multiplica a divulgação de quem participa. O importante é estar atento às datas e prazos, bem como ler com atenção aos regulamentos para saber se o concurso vale ou não a pena. Os concursos que estiverem de acordo com as recomendações do ICSID ou do ICOGRADA, ou recomendados pela ADG ou ADP são os mais recomendados, já que permitem aos concorrentes o recurso a estas entidades, caso haja alguma irregularidade.

Visitas e Viagens
Fazer visitas é outra forma de criar experiência e de se informar sobre seu campo profissional. Tente fazer quantas visitas puder enquanto for estudante. As portas estão sempre abertas quando a gente é estudante, todo mundo e simpático com a gente e isto é uma vantagem única. Vá a escritórios, empresas, instituições, fábricas, feiras, exposições e colete informações que lhe poderão ser úteis agora ou no futuro. Em feiras e exposições especializadas você terá a oportunidade de ver, em um único recinto, vários fornecedores ou expositores de um mesmo setor e fazer comparações de forma fácil e rápida além de coletar informações diretamente com quem as divulga. Obter informações técnicas relevantes em um país como o nosso não é fácil, portanto não desperdice as oportunidades que tiver ao seu alcance. Feiras e exposições são ótimas oportunidades de obtê-las, e informação, como veremos adiante é fundamental para trabalhar com competência nos dias de hoje. Comece a fazer um arquivo do que for coletando, ele lhe servirá de referencia no futuro. Se puder, e se houver motivo, fotografe e documente o que for possível, esta informação pode não estar disponível em outra circunstância.

Viajar é também uma forma de ampliar sua formação e seu conhecimento. Tanto faz se a viagem é pelo país ou para o estrangeiro. Estamos falando é lógico daquela viagem que não se resume em mero turismo ou em compras. Você pode utilizar o design como motivo de seus contatos. Estabeleça contato por E-mail com uma associação profissional, uma escola, ou algum profissional no local para onde você pretende viajar e faça um roteiro. Isto lhe servirá de referencia e que pode gerar novas referencias em outros locais por onde você passar. Contatos feitos nesta fase de estudante poderão ser úteis para o resto da vida. Há sites, nacionais ou internacionais, com links valiosos ou simplesmente pesquise no Google. Em viagem visite design centers, escolas de design, escritórios, lojas de empresas com bom design, exposições de arte, arquitetura ou design ou qualquer outro evento ou instituição que tenha haver com o assunto. Faça um livro de notas, uma agenda ou um diário durante sua viagem, anote tudo de forma a poder resgatar esta informação sempre que for necessário. Você verá um novo mundo se abrindo, se sentirá mais informado, verá quantas oportunidades existem de atuação como profissional e poderá fazer sua opção mais fácil e conscientemente

Buscar informações
Como parte de sua formação a busca por informações deve ser uma constante. Navegar na internet é sempre útil e faça uma lista de “Favoritos” no seu computador. Faça o download de textos interessantes, criando um arquivo organizado que lhe permita recupera-los depois, quando necessário. Quando pesquisar não esqueça de registrar a fonte de origem. Sempre que possível contracheque estas informações. Na internet há muita coisa não confiável, lembre-se disto. Com a fonte citada a responsabilidade está dada.

Nestes tempos de Internet há uma tendência se achar que só esta forma é atualizada. Entretanto devemos nos valer de todos os meios possíveis para manter nosso nível de informação alto. A frequência a Bibliotecas é ainda de vital importância. A visita a outras escolas como forma de comparar sua formação pode ser muito útil. Fazer cursos paralelos de curta duração também é uma formula muito utilizada para complementar uma formação menos estruturada ou para obter informações de outra forma não disponíveis. A assinatura de revistas especializadas ou a compra de livros poderá contribuir para a formação de uma biblioteca particular e sempre necessária. A visita a exposições industriais ou de qualquer outro tipo poderá resultar em um acervo de catálogos e folhetos que sempre serão úteis em projetos ou estudos futuros. Frequentar congressos, reuniões ou seminários pode revelar novos pontos de vista e resultar em uma coleção de textos e papers que por sua qualidade reflexiva lhe abrirão novas perspectivas nunca dantes vislumbradas.

Ser profissional
Ser profissional significa que você fará parte de um corpo de indivíduos que se dedica a uma atividade em prol da sociedade. Significa ter uma postura adequada à sua formação perante seus clientes, empregadores, perante a sociedade e seus colegas profissionais.

Filie-se a uma associação profissional, ou a mais de uma se achar conveniente. Participe desta associação tentando elevar o nível de exercício da profissão. Discuta formação de preços, de outros profissionais, da política do exercício da profissão, da regulamentação e de todos os assuntos que são e serão de seu interesse como profissional. Custa muito pouco, especialmente para estudantes, se todos tiverem o mesmo objetivo a profissão só tem a ganhar e você pode contribuir para isso, decisivamente.

Uma carreira com prazer
Se você se identificar com o Design e tiver tido uma boa formação, poderá desenvolver uma carreira que lhe dê sucesso, reconhecimento e principalmente prazer. O designer tem uma atuação flexível, pode resolver problemas diferentes a cada vez, pode ter a satisfação de ver seus produtos e mensagens em uso pela população, pode contribuir para aumentar a informação, a comunicação e o conforto do usuário em geral.

Isto não é pouco, nos dias de hoje.

Texto atualizado em 2009, publicado originalmente na Revista Designe Nº1 em 08/1999.

Design e a miopia estratégica

O pais vive nesta virada do ano uma época de euforia, a economia estabilizada, a oferta de empregos, as exportações, as descobertas de petróleo, o IDH, as vendas de natal, estão fazendo todos enxergarem um futuro cor de rosa.

Simultaneamente continua havendo uma visão truncada quanto a nosso desenvolvimento industrial, especificamente no que se refere ao design. Quando foi criado o Programa de Qualidade e Produtividade esqueceram de incluir o design, o que não aconteceu em qualquer outro pais do mundo. Mais tarde criaram o Programa Brasileiro do Design para concertar o erro, uma iniciativa claudicante de governos passados e que mesmo no governo atual nunca conseguiu dizer a que veio. Mais recentemente na divulgação do PAC da Inovação novamente esqueceram do assunto já que no seu texto não há uma palavra sobre design. Falou-se de patentes, de inovação mas o design foi solenemente ignorado, como se ele não fosse parte da tecnologia e da inovação.

O descaso com o design por parte das federações de indústria e do comércio e de nossa classe política beira o absurdo, e nas raras ocasiões onde se manifestam sobre o assunto parecem estar fazendo favor ao design e aos designers. Nossa classe dirigente ignora solenemente o potencial de valor agregado que o design pode trazer para nossa produção, em todos os níveis.

Por outro lado o Design Excellence, uma iniciativa da Apex, que organiza nossa participação no If da Feira de Hannover continua premiando o design brasileiro no exterior, além de outros 30 concursos regulares de design, dão visibilidade de inegável qualidade ao design nacional. Apenas as indústrias multinacionais e algumas empresas nacionais mais iluminadas tem se beneficiado da qualidade do design nacional, o que também atesta nossa capacidade na área. Apesar disso não encaramos o design como um fator estratégico do desenvolvimento industrial, como o fazem Coréia, a China, e o Japão mais recentemente e a Alemanha, Itália, o Reino Unido e os paises escandinavos na metade do século passado.

Até quando o governo vai ignorar o design como estratégia? Até quando o pais vai teimar sistematicamente em não utilizar deste instrumento de desenvolvimento? Até quando vamos dispensar o fator de geração de valor agregado mais barato e eficiente que existe? Até quando vamos deixar de nos beneficiar de utilizar o design como fator de melhoraria de nossa produção e de nossa qualidade de vida?

A maioria do empresariado de capital nacional precisa corrigir sua miopia crônica em relação ao design. Necessitamos com urgência de uma verdadeira cirurgia para eliminar a miopia estratégica a respeito do design em nossa classe dirigente e em nosso meio produtivo. Não há óculos que dê mais jeito!!

Texto publicado no Site http://www.abedesign.com.br/
05.2008



O legado de José Carlos Bornancini (1923-2008)

Quem não tem ou teve um produto desenhado por Bornancini em casa? Uma tesoura Ponto Vermelho, uma faca Corte Laser, uma garrafa térmica Termolar ou quem sabe foi alimentado pelos pais com o Talher Criança.? Quem valida seu Cartão nos ônibus do Rio de Janeiro e de outras cidades, não deve saber que diariamente entra em contato, até por mais de uma vez, com um produto desenhado por este pioneiro do design brasileiro.

Este engenheiro por formação, professor e designer por opção conseguiu nos demonstrar que o design brasileiro tem qualidades, respeitadas inclusive no exterior, muito antes de termos profissionais aqui formados e antes ainda da atual fase de reconhecimento pela qual, afinal, estamos passando. Sozinho, com seu sócio ou liderando equipes, desde os anos 50, conseguiu superar as resistências atávicas do industrial de capital nacional (e multinacional) a melhorar seu produto com um projeto coerente, racional, ergonômico e também belo quando era necessário, isso sempre sem cópia. Ao contrario demonstrou que o nosso produto por ser bom, pode ser copiado, já que teve inúmeros casos de contra-facção de seus projetos inclusive na Alemanha, berço histórico do bom design.

Bornancini e Nelson Petzhold estiveram na ESDI em maio de 2003 e proferiram a aula inaugural onde falaram de seu trabalho, enfatizando o uso da percepção visual, o foco na inovação e na coragem de inovar, como forma de contribuir para um mundo melhor.

Bornancini nos deixou, no dia 24 de janeiro. Com ele se foram muitas boas idéias, muitos ensinamentos, a companhia sempre agradável de uma verdadeira unanimidade, e algumas das mais divertidas tiradas sobre nós mesmos e nossa sociedade.
Bornancini nos deixou a crença que, se tudo que ele realizou em sua época foi possível, será possível levarmos o design brasileiro no futuro ao respeito que ele merece, mas sem nunca perder o humor!

Foi uma honra e um privilegio enorme termos convivido com Jose Carlos Bornancini.

Texto publicado no newsletter "Sinal" http://www.esdi.uerj.br/sinal - Janeiro 2008

Um Design Onírico?


Em uma segunda feira de sol radiante eu me preparava para subir no avião com destino a São Paulo e me perguntava porque estávamos ali na pista, quando todos os “fingers” do Santos Dumont, recém reformado, estavam ociosos. Perdoei o fato pelo sol de outono que tínhamos a nosso dispor, sabendo o tempo que iria encontrar na capital paulista. Me ajeitei na poltrona do corredor que sempre utilizo quando um senhor, elegante e bem vestido, me pede licença para sentar na poltrona da janela destinada a ele.

O avião levanta vôo e admiramos a paisagem esplendida do Rio em sobrevôo matinal, que sempre deixa qualquer um de boca aberta. O senhor me da um sorriso e faz um comentário sobre o design da cidade, o que me apresso a concordar pois este é meu terreno. O design e o Rio. Faço alguns comentários sobre a qualidade do nosso design, ele me pergunta o que faço e relato brevemente minha atuação de meio designer e meio professor. Ele me diz que a sua empresa se utiliza muito do design e se apresenta como Manuel, de sobrenome indecifrável, presidente da GM do Brasil.

Admirado me animo com a conversa, já que conheço o departamento de design da empresa, onde por coincidência, trabalha um ex-aluno nosso e com os quais tivemos vários contatos. Até desenvolvemos no passado projetos em conjunto com nossos alunos, com suporte da empresa , como um interessante projeto de interior de automóvel destinado ao publico feminino. Somos interrompidos pelo serviço do micro lanche do serviço de bordo e comento que já tivemos dias melhores na Ponte Aérea. Ele ri e menciona que sabíamos administrar e contornar melhor a escassez típica de um país em desenvolvimento.

A conversa continua animada e pergunto por projetos atuais, nestes tempos de crise, de escassez de recursos, de excesso de cautela, de paralização de idéias. Ele me responde que estamos numa época de expectativas, enrola um pouco o papo e percebo que não pode revelar idéias corporativas. Para enfatizar meus argumentos, e dar uma de cara informado, relembro a ele que o departamento de design da empresa dele já teve atuação destacada em projetos de sucesso, como o Celta e o Prisma, por exemplo, que são projetos inteiramente nacionais e que até geraram um novo modelo de produção. Relembro a frente do projeto Sabiá, uma “pickup” conceitual apresentada em salões do automóvel internacionais e que foi aplicada em toda a linha Opel, da época. Falo das sucessivas remodelações da linha Corsa e Astra bem como de outros projetos pontuais que sustentam a imagem da empresa no Brasil e no exterior além do excelente estúdio de realidade virtual que possui atualmente.

Animado, faço ainda algumas considerações sobre designers brasileiros de empresas concorrentes, como a Volkswagen e da Fiat que atuam com sucesso no exterior e de novos players no mercado brasileiro, como os franceses que recentemente estabeleceram centros de design no Brasil. Ele se mostra impressionado com o meu entendimento do assunto e concorda com a nossa eficiência em termos de design automobilístico. Eu, meio bobo com meu desempenho, começo a extrapolar e coloco em questão o fato de não entender porque não temos uma montadora de capital verdadeiramente nacional, onde o design brasileiro fosse reconhecido, plenamente. Ele então, não se contendo, se aproxima de mim, por sobre a poltrona do meio vazia, e me confidencia em voz baixa que talvez estivéssemos próximos disso naquele exato momento. Dá a entender que a filial nacional da GM esta para ser vendida a um forte grupo nacional, neste processo de concordata que a GM americana está vivendo. Sem ser muito explicito dá a entender que está indo negociar o fato naquele dia. Eu o encaro meio atônito por ter me revelado este segredo e fico cheio de esperança, imaginando que nosso design automobilístico finalmente poderá ter o reconhecimento que os japoneses, os coreanos ou mesmo os recém chegados indianos e chineses, tem, mesmo tendo começado muito depois de nós.

Nos aproximamos de São Paulo e o aviso dos cintos e dos aparelhos eletrônicos proibidos ecoa pelo avião. Trocamos cartões e finalmente vou decifrar aquele nome inaudível lá do começo. Quando fixo meus olhos míopes no cartão, percebo estar sem óculos e começo a ouvir um ruído estranho e persistente.

Me assusto muito pois parece um ruído de emergência e a repercussão de uma tragédia aérea recente ainda está presente na memória. Descubro ao mesmo tempo aliviado e decepcionado que é o meu celular me despertando para um novo dia de trabalho onde vou encarar mais uma turma de alunos, tendo que convencê-los que fazer design no Brasil vale a pena. Será um sonho? Coloco os óculos e me levanto, como faço todas as amanhãs.

Texto não publicado - Junho 2009