Fatos recentes divulgados pela imprensa demonstram que caminhamos celeremente para ser um país sem projeto. Casas populares que se desintegram antes dos seus moradores as ocuparem, de forma injustificada; estádios que são interditados por falhas de projeto e de execução; carros de metrô que são encomendados com especificações inadequadas ás estações que devem servir; prédios para desabrigados que desmoronam fruto de chuvas fortes; sistemas de transporte que tem que ser refeitos logo depois de inaugurados; instalações esportivas que são inadequadas a padrões internacionais ou tem seu custo multiplicado durante a construção, além de uma perplexidade diante dos caminhos do planejamento da economia e da vocação da nação.
Somos o país do “jeitinho”, do “improviso”, da “gambiarra”, da
informalidade, da criatividade! Depois da fase de desenvolvimento, iniciada com
a siderurgia nos anos 50, da indústria automobilística, nos anos 60, do milagre
econômico dos anos 70/80, da abertura nos anos 90, da globalização do inicio
deste século já era tempo, de termos uma nova visão de como planejar e projetar
nosso futuro. Já deveríamos ter modificado nossos hábitos, no sentido de
tomarmos na mão nosso desenvolvimento de forma independente. Sempre fomos o
país do futuro, como definiu Stefan Zweig nos anos 40, mas parece que este
futuro chegou e não nos demos conta ainda. Nestes períodos mais recentes
tivemos que acelerar certos passos e tomar atalhos para fazermos frente ao
cenário mundial, especialmente nesta crise mundial que atravessamos, onde a tecnologia
se tornou a referencia do momento.
Ultimamente temos ouvido a menção quase que constante ao
termo inovação. Temos que inovar para podermos nos desenvolver, para sobreviver.
Ora o que entendemos por inovação??? Há uma crença de que está aliada a
tecnologia, ou a pesquisa ou ao conhecimento. Não é, porém compreendida como
ligada a projeto! Temos muito pouca pratica de projeto e por isso não somos
inovadores, essa é que é a realidade.
Como ainda somos um país pobre, com poucos recursos
financeiros, este passou a ser a nossa referencia de eficiência, inclusive no
slogan oficial do governo. Tudo deve custar barato, tudo deve ser definido pelo
preço mínimo. A Lei das Licitações, que rege as compras públicas, por exemplo,
é clara neste ponto, preço mínimo acima de tudo. Só que preço mínimo significa
custo mínimo, que redunda em economia de recursos para atingir sua meta, que é vencer
a concorrência!
Nas compras públicas já se aboliu o projeto completo como
exigência para a licitação da obra. Devido aos prazos curtos das concorrências nos
utilizamos de anteprojetos para cálculos e licitações, admitindo-se que o
projeto executivo seja feito pelo construtor, ou vencedor da concorrência,
concomitante com a obra ou o serviço a ser executado. Acreditam que sem projeto
se ganha tempo! Resultado: adiamentos, renegociações, revisões de orçamento,
suspeições de superfaturamento e em muitos casos paralisações ou mesmo abandono
de obras antes de sua conclusão. Os tribunais de contas não tem como comparar
as especificações propostas para as obras com sua realização devido a essa
promiscuidade sem solução. Podemos então imaginar o que vai acontecer com todas
as obras atrasadas para os grandes eventos que se avizinham!
No setor privado se vê é um descompasso com a época em que
vivemos. A rapidez necessária para responder às demandas do mercado não tem a
eficiência desejada. É comum empresários nacionais serem alijados do mercado
por produtos mais avançados ou mais baratos que são lançados pelos concorrentes
estrangeiros. O ritmo e ciclo de vida de um produto no mercado hoje em dia é
vertiginoso. Nossos industriais, pelo fato de não terem o habito de projetar
seu próprio futuro são pegos de calças curtas! Para sobreviver resolvem copiar
os lideres de mercado ou mesmo se transformarem em distribuidores de produtos
asiáticos, deixando de lado sua produção, por ser mais custosa e sem eficiência
ou rentabilidade. Um exemplo: na indústria automobilística, considerada a mais
avançada do país e toda ela de capital multinacional, é comum serem produzidos
modelos defasados da realidade mundial, já que não há projeto que faça frente
vindo dos concorrentes. E a nossa competitividade como fica??? Temos perdido
nossa capacidade em diversos ramos e lentamente retornamos a ser dependentes em
nosso desenvolvimento.
Nestes novos tempos temos o fator ambiental a ser
considerado, além da sustentabilidade.
O fazer mais com menos, com o mais adequado, com o menos
danoso, com o mais natural. A nossa sociedade exige a adoção destes princípios,
pois ela percebe as conseqüências na própria pele. A nossa elite empresarial,
no entanto só o fará se forçada, já que considera que ainda há muito que poluir
ou degradar, antes de tomar medidas conservacionistas em seu projeto de
desenvolvimento. Se é que essa elite tem projeto de desenvolvimento!?!?
E o design como fica neste contexto? Neste cenário de
descaso, tanto por parte das autoridades como de nossa elite industrial quanto
ao projeto, aonde vamos empurrando com a barriga nosso desenvolvimento, é cada
vez menor a chance de termos bons resultados em curto prazo. Antevemos um
cenário cada vez mais defasado e prejudicial ao nosso futuro. Sem um programa
de indução, de incentivo, de valorização do design e do projeto pouco poderá
ser acrescentado de criativo a essa realidade, de forma mais ampla e eficaz.
Não nos adianta ter uma profissão que lida eminentemente com inovação se não
houver um terreno fértil para que ela seja aplicada. O valor agregado que o
design pode adicionar a nossa economia, por um custo irrisório, deixará de
existir em curto espaço de tempo, devido a ignorância sobre significado do projeto
de design, bem como sua importância em nossa época.
Caso venhamos a perder a nossa capacidade de projeto, com a
perda do “know how”, a sua retomada e restauração será dolorosa, custosa e
demorada. Não se prepara mão de obra de projeto em curto espaço de tempo e essa
mão de obra se perde sem a prática, bem como sem a experiência. Se perdermos
nossa capacidade de projeto sofreremos um revés que poderá se tornar um assunto
de verdadeira “Segurança Nacional”, termo comum na época da Ditadura.
Nossa experiência acumulada, que já é pouca, ficará perdida
e será nenhuma em breve, se não adotarmos como principio que temos que formular
e implantar um projeto para este país onde o design será parte fundamental.
É isso o que projetamos!!!!
Texto não publicado
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