Nos dias de hoje, há uma proliferação de produção de elementos na nossa cultura material . Há coisas demais, produtos demais, consumo demais, vivemos numa sociedade de afluência exacerbada. Ainda assim criamos novos produtos ou itens alem da nossa necessidade ou por causa dela.
O ”mercado” é o grande incentivador desta tendência. Ele inventou o “Benchmarking” que nada mais é que, a análise do que já se faz para poder fazer de novo e melhor. No caso de produtos novos há a Engenharia Reversa, que é a analise de todo um processo, para se refazer o mesmo, da forma original. São duas ferramentas, para uso no mundo competitivo e estratégico e de alta relevância.
Queremos aqui analisar as cópias no mundo do Design, que continuam a ocorrer, mesmo com toda informação disponível. Produtos de sucesso tendem a estimular a criação de concorrentes. Muitas vezes “forçam” a criar concorrentes. Produtos similares são muitas vezes forçados a existir para garantir a sobrevivência de empresas ou produtores. Os consumidores quase sempre ditam a necessidade de existir concorrentes, para assim evitar domínio e monopólio de mercado. Entretanto nem sempre há sucesso na transferência de competências, na busca do novo ou na formulação de uma nova opção. O “mercado” não gosta de coisas novas, especialmente as não “testadas”, por insegurança. Surgem então as cópias. Especialmente das já aprovadas.
No ramo de mobiliário temos o exemplo da famosa Poltrona Mole do Sergio Rodrigues. Quando lançada, nos anos 50, teve nenhuma repercussão. Bastou ganhar um prêmio no exterior para que proliferassem cópias, ou modelos “inspirados” nela. Sergio contabilizou e documentou 30 copias, algumas feitas por grandes designers brasileiros, seus colegas. O designer italiano Vico Magistretti declarou abertamente que seu Maralunga foi inspirado na poltrona Mole. O sucesso inspira a copia!
Lembro de Alexandre Wollner mencionando a “Nikezação” dos logotipos brasileiros, em uma certa época, onde todos tinham uma curva à moda da Nike. Felizmente esta “tendência” passou.
O que constatamos é que a copia sempre tem vida curta. Como ela é imposta pelas circunstâncias não tem, para o produtor a autenticidade de um original. Daí o pouco comprometimento do copiador com seu produto. Como podemos ver no caso citado da poltrona Mole. Ela sobreviveu, e com louvor, a suas copias antigas.
Em alguns casos temos a transposição de velhas ideias como sendo novas.. Continuando no mobiliário, vemos as versões da cadeira Thonet, no original em madeira vergada, agora produzida em tubo curvado e frequentando muitas copas e cozinhas da atualidade. Um bom projeto revisitado ou revisto em outro material.
Há uma crença de que um sucesso merece ser revisto, o famoso “remake”, tão ao gosto da indústria cinematográfica, com suas continuações eternas de sucessos. Há ainda o fenômeno do “vintage”, onde obras que caíram em domínio público são redescobertas. Um bom exemplo é o do Fusca e do New Beatle, uma tentativa de revalorizar um sucesso anterior.
Mas nos dias de hoje temos um fator que contribui muito para a “uniformidade” das soluções oferecidas ao mercado. Os softwares de modelagem que produzem resultados muito semelhantes, já que os atalhos para projeto são comuns a todos os seus usuários. Isso pode ser constatado nas nossas ruas, com os veículos de última geração. Como exemplo todos os SUVs se parecem, só muda o logotipo, sem o qual deixaríamos de identificar esta ou aquela marca. Essa imagem recentemente divulgada demonstra isso!
Ás vezes a indústria provoca a cópia, mesmo sem nenhuma culpa aparente. Numa das ultimas feiras de mobiliário e maquinas, vimos um fabricante de madeira moldada oferecendo peças prontas para a execução da cadeira Costela, do Jorge Zalszupin, recentemente falecido. Qualquer marceneiro ou estofador poderá executar copias deste modelo, muito valorizado pelos modernáriatos, sem dificuldade daqui para diante. Como conhecemos de uma famosa emissora de TV: ”Vale a pena ver de novo”!
Cadeira Costela de Jorge Zalszupin |
Para complicar o cenário temos agora a já polemica IA, a inteligência artificial, que pode oferecer soluções perfeitas e idênticas a realidade pré-existente. Isso até sem a presença de um designer ou criador, que nominalmente se responsabilize pelo resultado. Ainda mais que temos o recurso do “algorítmo” que determina o que o “mercado” quer, nos escravizando ao senso comum. Podemos esperar por um enxame de produtos e ideias com “inspiração” conhecida e evidente em nosso entorno.
Embalagens parecidas de limpador universal. |
No país temos um sistema de proteção da propriedade intelectual e industrial muito deficiente e falho, que não defende a produção brasileira. Há setores que não registram seus produtos, como mobiliário, por exemplo. Há outros que não tem legislação adequada a sua produção, com as fontes tipográficas e as novas mídias. Há setores que só registram as criações de suas matrizes, como o automobilístico, dificultando o registro de soluções nacionais semelhantes ou melhores. Há casos de aceitação de registro de idéias que já são de domínio publico, prejudicando quem propõe soluções nacionais já aperfeiçoadas.
Na medida em que se privilegia o conceito da “inovação” como única solução para o nosso desenvolvimento, temos que acordar para estabelecer um mecanismo moderno e eficiente de proteção contra a cópia e a pirataria. Afinal a propriedade intelectual é um dos ativos principais de um país.
A economia, a sociedade e a criatividade brasileira merecem isso!