Design é qualidade, é conhecimento, é cultura.
Design serve para melhorar a vida, adicionando valor a nossa cultura material. Neste espaço queremos discutir alguns destes tópicos, especialmente em relação a realidade brasileira.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Expertise de francês para o Metrô do Rio?


Na revista Railway Interiors deste mês anunciam que no próximo dia 15 de novembro, na Railway Interiors Expo em Colônia, Alemanha, vai ser apresentado o novo projeto dos carros do Metrô do Rio de Janeiro, pelo escritório francês MBDDesign. Trata-se de um escritório de design especializado em design de transportes, notadamente transportes ferroviários, que possui em seu currículo alguns projetos de trens e metrôs de cidades importantes como Marselha, Nanjing  e Singapura.

Ora a pergunta é porque afinal um escritório de design francês está desenhando os carros do Metrô do Rio?  Será que não temos nenhum escritório de design habilitado em nosso país que possa fazer este tipo de projeto? Que critérios foram utilizados para escolher o MBDDesign e não algum outro também habilitado a realizar este projeto. Foi realizada uma concorrência pública internacional? Foi o menor preço? Foi o notório saber? Quem decidiu pela contratação? Quanto isso está nos custando?

Frente Metrô Rio (V&V)
1º Interior - Metro Rio (V&V)
Os Metrôs do Rio e de São Paulo, bem como os de outras cidades do país foram implantados na década de 70, todos com tecnologia importada, já que não a tínhamos disponível, mas com design nacional e que se mostrou adequado, de muito boa qualidade e eficiência. Os projetos iniciais do Rio e de São Paulo foram executados pelo escritório Verschleisser / Visconti do Rio de Janeiro e a segunda fase pelo escritório GAPP de São Paulo, com soluções que estão presentes nos carros que circulam até os dias de hoje e que tem se mostrado muito eficientes.
1ª Frente - Metrô SP (V&V)
2ª frente - Metrô SP (GAPP)
Poderíamos dizer que há uma necessidade de renovação nestes projetos e que deveríamos optar por alguém mais sintonizado com os novos tempos ou com novas necessidades. Neste caso porque não procurar entre os inúmeros escritórios nacionais alguém que já tivesse uma “expertise” próxima ao problema? Podemos lembrar, dentre outros, de Guto índio da Costa, designer premiado que já apresentou um projeto de transporte revolucionário, ou mesmo de Bruno Batella, designer carioca responsável pelos interiores dos trens suburbanos do Rio, fornecidos pela Coreia. Além deles temos inúmeros profissionais com experiência em transportes rodoviários, com uma problemática muito próxima do transporte ferroviário, que poderiam executar um projeto deste porte sem nenhum problema, vide exemplos de empresas de atuação internacional como Marcopolo, Caio, Busscar, etc. Lembremos também que todas as montadoras multinacionais de veículos têm equipes eficientes de designers atuando no Brasil, exportando design com sucesso para outros mercados.

No caso de ainda assim necessitarmos de “expertise” internacional deveria se procurar encontrar alguém mais sintonizado com a realidade brasileira, já que um designer parisiense por mais internacional que fosse teria problemas em entender o “carioca way of life”. Podemos mencionar dois escritórios de designers experientíssimos e que conhecem muito bem nossa realidade: Alexander Neumeister da neumeister+partner que vive parte do ano em Munique e parte no Rio de Janeiro desde 2000, onde já possuiu sociedade no escritório NCS Design. É um dos maiores experts em trens do mundo e conhece como ninguém a realidade brasileira. Podemos ainda mencionar a escritório de Thomas Haslacher, nascido e educado no Brasil, do escritório haslacher+partner, também de Munique que à mais de 20 anos é um dos maiores especialistas no assunto. Thomas estudou por curto período na ESDI, no Rio tendo se formado em design na Alemanha, mas com profundas ligações com o país.

Admitamos que por qualquer outro motivo justificável tivéssemos que trabalhar com o escritório parisiense. Neste caso não se deveria propor uma parceria com algum escritório brasileiro, no sentido de facilitar a transferência desta “expertise” ao país, adequando-se o projeto a nossas características e peculiaridades? Isso com certeza facilitaria a rápida absorção do projeto, prevendo-se novas aplicações futuras, adaptações, manutenção e expansões necessárias, com custos menores e maior agilidade na sua aplicação. Os chineses, que tem se utilizado largamente de design vindo do exterior, tem feito assim, no sentido de absorver “know how” de forma rápida e eficiente. Porque não fazemos o mesmo? Estamos perdendo mais uma oportunidade de formar nossa própria “expertise”!

A mim parece que este caso sinaliza simplesmente que continuamos com nosso velho pensamento colonizado, onde o futuro é, e continua sendo, feito na metrópole. Continuamos com a síndrome do “Yes Bwana”, onde tudo que vem de fora é sempre melhor do que as soluções nacionais que possam ser propostas.

Quando vamos aprender que o futuro se faz aqui e agora?!

Texto não publicado.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Design é Cultura!

Desde outubro de 2009, faz dois anos, o Design passou a ser incluído no âmbito do Ministério da Cultura. Fomos incluídos por meio do Dec. No 6.973-2009 junto com outras áreas de interesse, como Moda e Arquitetura dentre outras. Já não era sem tempo que o design fosse valorizado como um aspecto importante de nossa cultura material, seguindo o novo paradigma denominado como Cultura Criativa. Esta valorização se sintoniza com os tempos atuais, especialmente da modernidade em diante, onde o design tem assumido papel preponderante em nossa sociedade.

Mas afinal qual é o papel do design neste contexto? Qual a motivação do MinC em incluir esta área dentro de seus interesses? Antes de tudo pretende-se valorizar a ligação do design com a chamada economia da cultura. O design é fator de desenvolvimento e de qualidade que permeia todos os aspectos da produção cultural. O que se pretende é que o design seja utilizado e aplicado, por exemplo, em todos os equipamentos culturais afeitos ao MinC e ao Sistema Nacional de Cultura. Ai estão incluídas às bibliotecas, os museus, os pontos de cultura, as exposições, os centros de pesquisa, o patrimônio, além da representação cultural no país e no exterior. O design também poderá contribuir em muito para o aumento da qualidade de todas as publicações do MinC, como livros, impressos, CDs/DVDs, web, eventos, sinalização, identidades, às adaptações para portadores de necessidades especiais, etc.

Mais abrangente é ainda a inserção do design no Plano Nacional de Cultura e no Sistema Nacional de Cultura, que se desdobra nos sistemas estaduais e municipais. Isto significa que todos os aspectos acima abordados podem ser replicados nestes dois níveis de nossa estrutura cultural. O SNC - Sistema Nacional de Cultura prevê que ao haver a sintonia no âmbito dos estados e municípios com ele, há a necessidade de replicar e aplicar estes mesmos níveis de interesse nestes ambientes. Prevê ainda que qualquer destas instâncias podem se utilizar de verbas federais, de Fundos Setoriais ou de outras origens para tender a estes objetivos. Há uma cartilha que esclarece estes aspectos, à disposição dos interessados, no site do MinC e impressa, que poderá ser solicitada.

De forma simplificada podemos dizer que o design passa a ser inserido nas secretarias de cultura dos estados e municípios, com os mesmos desdobramentos do âmbito federal. O design passa a ser do interesse e utilizado como ferramenta para valorizar a produção cultural no país inteiro, já que está amparado por decreto federal, que o inseriu no SNC.
Em parte isso já era uma realidade em grandes centros, onde o design está presente de forma indelével nas instituições culturais, mas é pouco comum em centros menores, nos rincões mais isolados do país, onde a produção cultural não é valorizada e deixa de ser divulgada e utilizada como expressão de uma comunidade, somente pela forma de sua apresentação. Onde isso for adequado poderemos ter representantes do design em conselhos de secretarias de cultura e em instituições culturais que sejam referencias no setor. O novo paradigma da economia da cultura pode se beneficiar enormemente da contribuição do design para sua afirmação e consolidação, beneficiando a todos.

E o nosso setor, como fica no âmbito do MinC? Temos um representante eleito, que atua junto ao Conselho Nacional de Política Cultural, desde abril de 2010, com participação ativa nas reuniões deste conselho. Está em andamento a constituição, por meio de um grupo de trabalho, de um Colegiado do Design, que terá 15 membros e igual numero de suplentes e que será responsável a elaborar um plano setorial do design, além de eleger o próximo representante junto ao CNPC, ao termino do mandato do atual. Estes membros serão escolhidos em uma reunião maior com representantes de todos os setores e das regiões do país.

Este colegiado poderá propor ações de interesse do design junto à cultura e ao MinC, como por exemplo, incentivos para o uso do design na cultura; ações de preservação da história do design brasileiro como elemento de nossa cultura material; da utilização do design como símbolo da cultura brasileira, especialmente em mostras no exterior, normatizar e incentivar a criação de núcleos de design junto a equipamentos culturais sejam federais, estaduais ou municipais além de incentivar ações educacionais junto a todas as camadas da população no sentido de valorizar a cultura material do país, especialmente com vistas ao patrimônio cultural brasileiro.

A criação, no âmbito do MinC, de uma Secretaria da Cultura Criativa é também um instrumento de valorização da possível contribuição do Design, ao desenvolvimento das ações afetas a estes aspectos de nossa cultura. Cultura é um setor que gera renda e com design terá maior valor, beneficiando a todos os interessados.

O design também agrega valor à cultura. Finalmente design é cultura!
Texto não publicado.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

15 Historinhas de Regulamentação do Designer



Os argumentos em favor da Regulamentação da Profissão de Designer são inúmeros e já explicitados em outros textos. Reproduzimos aqui algumas das historinhas reais que conhecemos e que exemplificam algumas das agruras que os profissionais de Design tem sofrido ao exercer a sua opção profissional com qualidade.
Vol.1 - Um designer formado na primeira turma da ESDI se tornou funcionário concursado de uma empresa estatal, estadual de gerenciamento de terminais rodoviários, exercendo a função de programador visual, por toda a sua carreira. Ao se aposentar foi surpreendido por ter sido classificado como “técnico especializado” ao invés de “desenhista industrial”. Explicaram que a carreira por não ser regulamentada não permitia a classificação correta.
Vol.2- Empresa estatal realizou concorrência de compra de cadeiras de escritório. Exigiu do fabricante vencedor, empresa tradicional do Rio, que fornecesse o certificado, a ART, Anotação de Responsabilidade Técnica, assinada pelo responsável. Os produtos, todos desenvolvidos por designer premiado tiveram que ter a ART assinada por engenheiro mecânico de fora da empresa e que não teve nenhuma participação no projeto, apenas se responsabilizando por ele.
Vol.3 - Uma profissional de design gráfico, de um estado do sul do país, especialista em bulas de medicamentos, tem que submeter seus projetos a ANVISA do Ministério da Saúde assinados por outro profissional regulamentado, já que está impedida devido à falta da Regulamentação.

Vol.4  - Um conhecido designer especialista em Ergonomia presta serviços de layout e de arranjos de salas de controle, de grandes siderúrgicas, de refinarias ou de complexos petrolíferos, tornando-se assim um especialista no assunto, no qual trabalha a mais de 30 anos. Nunca pode assinar um projeto tendo se valido de engenheiros ou arquitetos amigos que assinam a ART de seus projetos.

Vol.5 - Profissional nordestino, especializado em design de interiores, tendo sido preterido seguidamente de fazer projetos para entidades públicas, entrou com recurso junto ao STJ e que ganhou direito de se registrar como membro do CREA por meio de mandato judicial. Caso único não se conhecendo jurisprudência a respeito!

Vol.6 - Um designer formado no Rio de Janeiro, em uma das mais tradicionais escolas de design trabalha para empresa de produtos aeronáuticos e não pode assinar os projetos que realiza. Designers estrangeiros, pertencentes a empresas terceirizadas multinacionais fornecedoras dessa empresa assinam seus projetos aeronáuticos, sem nenhuma restrição ou necessidade de registro.

Vol.7 - Em disputa judicial entre empresas por Registro de Desenho Industrial junto ao INPI, solicitou-se impugnação de designer reconhecido, como perito judicial, por falta de registro profissional. A impugnação é baseada no Código do Processo Civil pela exigência de registro profissional ao exercer a função de perito. Foi preciso estabelecer excepcionalidade para designer ser perito do juízo em casos de disputa relativa exatamente a desenho industrial!

Vol.8 - Laboratório de teste de mobiliário, pertencente à reconhecida universidade pública, homologado pelo INMETRO, foi concebido e constituído por designers. Tem que ter os seus laudos assinados por profissional de fora de seus quadros, engenheiros que não contribuíram para o projeto ou os testes, já que os designers estão proibidos de fazê-lo por falta de registro.

Vol.9 - Tradicional empresa estatal do setor elétrico tem a necessidade de contratar designers por meio de concurso público, dentre outros profissionais. Nos editais exige que todos apresentem seu Registro Profissional, o que no caso dos designers não é possível, por falta de Regulamentação. Os designers entram com recurso, suportado por declaração fornecida pela sua instituição de ensino, de que a profissão não regulamentada prescinde de registro.

Vol.10 - Uma grande estatal, apesar de possuir designers no seu corpo profissional, necessita contratar serviços extras de design de profissionais de fora. Este departamento os seleciona por meio de concorrência pública para tarefas especificas. Todas as concorrências têm como objetivo serviços gerais de design e engenharia. Exige-se que haja um engenheiro na equipe de design que assinará os projetos, tenha participado deles ou não.

Vol.11 - Candidata classificada em concurso público para Designer Gráfico foi preterida ao assumir o cargo por ser graduada em universidade federal em Programação Visual, por falta de legislação que esclareça estas designações. Iniciou procedimento de reivindicar a posse por meio judicial, baseada em declarações de docentes da área com notório saber!

Vol.12 - Designer ao registrar sua empresa de Design Gráfico na Receita Federal no interior do país, para obter seu CNPJ, foi aconselhado por funcionário a se caracterizar como agência de publicidade, a fim de facilitar o enquadramento no registro da atividade básica, de acordo com classificação existente na época, por falta de Regulamentação.  

Vol.13 - Entidade representativa de profissão próxima ao design instituiu concurso de design de luminárias e contratou conhecido designer para organizá-lo. Na comissão julgadora não admitiu designers, mas somente profissionais da entidade, alegando regulamentação e proibição no estatuto de convidar outros profissionais de fora da entidade.

Vol.14 - Numa entrevista de emprego, a entrevistadora do RH disse que o profissional não servia para o cargo, porque tinha mestrado em Design e formação em Desenho Industrial, segundo o seu currículo. Ele deveria ter formação em “Design” também para poder concorrer à vaga. "Só o Mestrado não serve".

Vol.15 - Uma prefeitura de uma das capitais do país instituiu licitação pública para projetos de mobiliário e equipamento urbano para bairros da cidade. Na concorrência exigiu a presença de arquitetos e designers nas equipes. Somente os primeiros assinaram os projetos e comandaram as equipes.

Textos publicados na pagina do Facebook “Regulamentem o Designer Já”, em 08/2011

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

LER, ou não LER eis a questão!

Já se foi o tempo em que fazíamos Design com papel, régua e esquadros! Hoje precisamos de hardware e software sofisticados e caros, além de muito treinamento e prática para realmente dominá-los. O uso indiscriminado da informática tem dominado nosso trabalho, não sabemos mais traçar um quadrado sem o computador e temos tal dependência deles que os utilizamos no trabalho, durante as refeições, no transporte e nas viagens, até na nossa cama, ainda mais agora com as famigeradas redes sociais.
Mas afinal isso tudo é trabalho? É lazer? É vício? Ou é tudo junto? Nosso trabalho, especialmente se formos Designers, nos condiciona a sermos umbilicalmente ligados a estas máquinas, em todas as situações. Os hardwares rapidamente têm evoluído e têm exigido novas posturas, novos hábitos. A evolução dos equipamentos de informática (Desktops/Notebooks/Netbooks/iPads/Tablets/Smartphones e o que vier proximamente) em cada caso, exige um tipo de suporte diferente, de formas de trabalhar diferentes, e de arranjos e layouts diferentes, no posto de trabalho.  

Sempre almejamos estar na crista da onda. Preferimos trabalhar com o que há de mais novo. Entretanto nem sempre o mais novo é o mais adequado a cada tarefa. Vejamos, por exemplo, o uso dos Notebooks versus o uso dos desktops. Há uma preferência natural pelos primeiros, já que parece que os “desk” estão superados, o que é um erro brutal de avaliação. Em Design o longo tempo de elaboração de layouts, dos renderings, pesquisas ou apresentações pedem telas grandes, diversos meios de acesso (teclado separado, mouse, tablet e caneta, HDs externos, câmeras, scanners, etc).

Em um Notebook isto não é fácil. Um “Note” serve para trabalhos eventuais, algo que precise ser feito “in situ”, levado para casa ou em viagens, como numa apresentação, conferência ou palestra. O Notebook é das maquinas menos ergonômicas que existem e as longas horas de projeto e desenvolvimento necessitam de boa postura e boa performance, que só um bom Desktop em uma mesa adequada e com uma cadeira regulável pode proporcionar. Pagamos uma fortuna pelas nossas maquinas e softwares mas esquecemos que elas são tão importantes quanto o suporte onde serão apoiadas. 

O mobiliário que utilizamos, na maioria das vezes, não é adequado ás longas horas de trabalho em nossas sofisticadas maquinas. Especialmente porque nos contentamos com qualquer mesa ou qualquer cadeira, o que se constitui em um erro mortal! Já constatamos casos de estudantes de design com casos flagrantes de LER durante o seu curso, o que é um fato preocupante para as futuras gerações de profissionais que estão chegando a mercado. A LER, a Lesão por Efeito Repetitivo é uma doença degenerativa, sem cura e um típico subproduto do uso desenfreado da informática. Ele provoca a aposentadoria precoce de indivíduos e os incapacita para as atividades da vida diária, quase sempre permanentemente e com muito sofrimento. Isso sem falar em problemas de coluna ou de circulação, por longas horas de postura sentada. 
Evitar o LER é mais uma das preocupações que devemos adotar para garantir que nossa carreira de designer seja longa e sem percalços. Portanto devemos cuidar de nossa estação de trabalho da mesma forma com que cuidamos do que estamos projetando. O bom senso e o conhecimento de ergonomia são características do Designer, não esqueçam! 

Há porém alguns detalhes, que devem ser observados em toda e qualquer estação de trabalho: bordas arredondadas nos tampos, utilizar apoio de pulso para teclado e mouse, ter tomadas à mão e com os requisitos de segurança, ter possibilidade de uma boa acústica, o que é cada vez mais raro, uma boa rede” wireless”, sem necessidade de cabeamento. 
Ter boas cadeiras giratórias, com todas as regulagens e com assento e encosto separados mas “sempre” com braços (também reguláveis!), ter uma iluminação individualizada e regulável, ter alguma privacidade, o que nos novos ambientes é cada vez mais difícil, especialmente nas novas mesas plataforma, são alguns pontos a serem observados.

Antes de tudo, deve-se privilegiar a flexibilidade e a mobilidade do nosso mobiliário. Devemos procurar especificar, para nós mesmos, um mobiliário que assegure ao exercício da atividade do design longevidade e não usar apenas o critério do preço!

Design sem LER é poder! E por mais tempo!

Texto não publicado.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Design, Descaso, Desânimo.


 Não consigo compreender o descaso ou o desânimo em Designers. Por definição o designer deve estar sintonizado com a mudança, com o projeto, com o questionamento e a critica, contribuindo para um futuro melhor. A melhor definição que conheço é “Design: para viver melhor”. Nossa natureza faz com sejamos contribuintes mandatórios na modificação, para melhor, da situação existente e como tal temos uma responsabilidade com o pensamento critico sempre, porém positivo, proativo e propositivo. Projeto é proposta. Design é designo!

No assunto que nos aflige no momento que é a Regulamentação da Profissão de Designer não é isso que tenho presenciado. Infelizmente continuamos nos deparando com o descaso e o desânimo, com manifestações negativas e com a falta de engajamento dos colegas, especialmente dos mais graduados, mas também nas novas gerações, no sentido de que este projeto não irá adiante.

Ora, isso é possível, já que a derrota é sempre uma probabilidade em uma luta deste teor. Temos um histórico de incompetência nesta matéria. Insisto sempre em dizer que não somos ainda uma profissão plena, que a Regulamentação nos proporcionará, por culpa exclusivamente nossa. Nunca fomos conseqüentes o suficiente ao nos mobilizarmos e batalharmos até a vitória por nossa Regulamentação. Talvez por isso alguns não reconheçam a possibilidade de finalmente termos sucesso.

Mas o que acontece hoje? Temos pela primeira vez um projeto redigido por nós designers, aprovado por todas as associações profissionais e que foi apresentado por um político que respeitou sua redação e a nossa reivindicação. Temos um movimento estudantil organizado e com poder de mobilização único, com uma massa de graduandos especialmente interessados nesta matéria. Há um numero imenso de cursos colocando profissionais no mercado e que se beneficiarão deste projeto ao inseri-los em uma nova realidade profissional. Temos o potencial de ajudar o país a se perfilar melhor em termos de cultura visual e de um desenvolvimento econômico de qualidade, com nossas capacidades de projetar, o que quer que seja necessário, para melhorar nossas vidas.

Não dá mais para ouvir lamurias ou manifestações de descaso, de dúvida, de desânimo pelos anos corridos de fracasso em perseguir a Regulamentação. Temos finalmente uma nova oportunidade, com um projeto consistente, que terá que vencer resistências e reveses, ainda não totalmente percebíveis.Temos que projetar nossa expectativa de forma positiva e consciente.

Gente, por favor, esqueçam o passado, já aprendemos o que podíamos com ele. Vamos pensar em nosso projeto maior que é tornar nossa atividade uma profissão plena e de valor. Para isso temos todos que nos engajar no que sabemos fazer melhor: projetar algo positivo para a profissão e para o nosso futuro profissional.

Somente a Regulamentação nos valorizará!

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Design: uma última oportunidade?

As recentes matérias que descrevem nossa economia em meados deste ano de 2011 revelam com evidência a baixa qualidade de nossa balança comercial. Os superávits são evidentes baseados, entretanto, em um aumento de exportação de commodities e em um decréscimo de produção e exportação de bens duráveis. Com o dólar baixo há um aumento evidente de importação de bens duráveis, ao ponto de em alguns setores termos aumentos injustificáveis da predominância de produtos importados. No setor automobilístico há um total de quase 30% de produtos importados no mercado e no setor de mobiliário houve um aumento de 125% de importações da China, por exemplo.
As associações patronais já alertam para uma desindustrialização e para a redução de emprego eminente no setor industrial. Estamos fazendo o que ninguém mais faz na economia globalizada, importando valor agregado e exportando matérias primas, relegando nossa produção industrial a um segundo plano. Neste momento o déficit da balança comercial de manufaturados já é de US$ 100 bilhões!!!


É preocupante? Claro que é, já temos uma indústria diversificada, bem balanceada e distribuída pelo pais, com emprego e um mercado potencial de porte. Então o que fazer? No inicio de agosto está sendo anunciado que a presidente Dilma, secundada pelo ministro do Desenvolvimento Fernando Pimentel e pelo secretário geral da pasta Alexandre Teixeira, lançará um programa para elevar a competitividade da indústria, intitulado Brasil Maior. Estamos na expectativa para ver se finalmente será feita alguma referencia ao design como ferramenta estratégica de indução a competitividade da indústria ou se tudo continuará naquele eterno “rame-rame” ao qual já estamos acostumados. Continuaremos a ser comidos pelas bordas, como até aqui???


A presença de Alexandre Teixeira na formulação do programa nos parece um alento, já que ele anteriormente chefiava a APEX Agencia de Promoção das Exportações que tem dado apoio ao design, especialmente por meio da ABEDesign, das Brazil Design Weeks e da participação no festival Cannes Lions, nestes últimos anos. Esperamos que finalmente não se repitam os equívocos da Lei de Inovação ou da política industrial lançadas no Governo passado e que não mencionavam o design em nenhum momento.


Nós não estamos otimistas, mas a esperança (ou o design) é a/o ultima/o que morre!!!


Texto não publicado

terça-feira, 31 de maio de 2011

A nova Regulamentação do Designer – Um relato resumido

Com a veiculação recente, da apresentação no Congresso Nacional de um novo projeto de Lei de Regulamentação Profissional do Designer, foram publicadas inúmeras manifestações na internet versando sobre o processo de elaboração deste projeto. Grande parte delas é fruto de desinformação, sobre os fatos, sobre a articulação, a motivação e o processo que levaram a esta elaboração. Com o intuito de esclarecer alguns destes itens e na qualidade de um dos participantes deste último, elaboramos o texto que se segue com o intuito de esclarecer este processo, uma grande dúvida entre nossos colegas:


Em 2007 por iniciativa de alguns profissionais de design renomados, foi constituído um Comitê com o intuito de propor um novo projeto de lei que regulamentasse a profissão de Designer. O projeto anterior de 2003, que propunha a regulamentação do Desenhista Industrial, tinha sido arquivado pelo Congresso Nacional naquele ano, sem possibilidade de prosseguimento de tramitação. Este Comitê foi constituído de representantes das principais organizações profissionais atuantes no país como a ADG Brasil/SP, ADP/SP, Adegraf/DF, APDesign/RS, APD/PE, AEnd/BR além de representantes da PUC/PR, do IED/SP e da ESDI/UERJ.

Reuniu-se pela primeira vez nos dias 18 e 19 de maio de 2007 em São Paulo na sede da Escola Panamericana de Arte e Design, onde iniciou os trabalhos de elaboração do projeto de lei a ser encaminhado ao Congresso. Partimos de uma revisão de proposta, já realizada, pela ADG Brasil, do projeto do PL nº 03515/89 – apresentado pelo então Dep. Maurílio Ferreira Lima - PMDB/PE. O PL de 1989, regulamentava a profissão de Designer, era por todos considerado o melhor já apresentado ao Congresso, e foi arquivado por ocasião do impeachment do Pres. Collor. O comitê reuniu-se novamente, no mesmo local, em 15 e 16 de junho, e após intensas discussões foi fechada uma proposta definitiva de projeto de lei, que foi apresentado a cada uma das associações e aprovado por unanimidade. Pela primeira vez temos um projeto de consenso de regulamentação de nossa profissão.


Este projeto foi encaminhado ao Dep. Jorge Bittar – PT/RJ que se comprometeu a dar-lhe andamento. Foi feita por ele uma consulta à assessoria parlamentar do Congresso que reiterou a sumula existente, rejeitando a regulamentação de novas profissões, segundo instruções do Ministério do Trabalho. O projeto não teve andamento, pois o Dep. Bittar foi nomeado Secretário de Habitação da Prefeitura do Rio de Janeiro, não o reencaminhando a outro parlamentar. Desde as eleições de 2010, membros deste comitê procuraram outros parlamentares que se dispusessem a reapresentar nosso projeto. Tivemos a concordância do Dep. Alessandro Molon – PT/RJ e do Dep. Jose Luiz de França Penna – PV/SP que foram abordados independentemente, por membros diferentes do nosso Comitê. No dia 18/05/2011 foi apresentado pelo Dep. Penna o PL nº 1391/2011 à Câmara dos Deputados e que nada mais é que o nosso projeto original, mencionado acima. É a primeira vez que temos um projeto em tramitação de consenso da classe, e que se devidamente trabalhado pode ser aprovado, finalmente.


Esta matéria é apenas encaminhada às Comissões de Constituição e Justiça, de Educação e do Trabalho, onde tendo pareceres favoráveis é aprovada e encaminhada a sanção presidencial, passando ainda pelo Ministério do Trabalho, mas sem passar pelo plenário. Temos que acompanhar este andamento e pressionar nossos parlamentares a aprovar o projeto, bem como envidar esforços junto ao executivo afim de que ele não seja vetado, ao final, quando encaminhado a sanção.


Temos um caminho longo e difícil pela frente, já que há uma sumula contrária a novas regulamentações, há interpretações de que regulamentar é inconstitucional, há resistências do executivo a estes processos, mas por outro lado, nestes dois últimos governos diversas profissões conseguiram sua regulamentação com pressões e “Lobby” bem feitos. Estamos elaborando uma estratégia a ser seguida e necessitamos da colaboração e contribuição de todos neste processo.


Nossas associações, por exemplo, precisam ser reforçadas e prestigiadas com a entrada de novos sócios, engrossando-se assim o numero de representados, fator crucial de pressão sobre a nossa classe política. Números sempre falam alto em termos políticos, como todos sabemos! Esperamos que cada designer atuante deste pais possa contribuir para o êxito deste processo!

Nós designers o merecemos!!!


Leiam mais e cadastre-se para seguir a tramitação em:
http://www.camara.gov.br/sileg/Prop_Detalhe.asp?id=502823

Leia mais em:
http://www.deputadopenna.com.br/site2011/?p=376

e em:
http://www.designbrasil.org.br/designnapratica/regulamentacao-do-designer-quem-interessa










Texto publicado no “Sinal" No. 402 de 30/05/2011

sábado, 28 de maio de 2011

Designers e Associações

Os designers brasileiros tem uma história associativa de altos e baixos. Nossas associações tem muito baixa representatividade, desde seus primórdios. Quase simultaneamente ao surgimento dos primeiros cursos foi criada uma associação profissional e promocional com o objetivo de atender à necessidade corporativa dos designers. A ABDI Associação Brasileira de Desenho Industrial, estabelecida em São Paulo nos anos 60, mesmo com uma atuação intensa em seu inicio, ficou a desejar quanto a uma efetiva representatividade profissional. As associações que se seguiram também sofreram deste problema, desde a APDINS, as APDIs, a AND, bem como as até hoje existentes ADG e AEnD.

Por paradoxal que seja os estudantes tem tido um comportamento exemplar em termos de organização, especialmente com os NDesigns, Encontro Nacional dos Estudantes de Design que se realizam ininterruptamente desde 1990. É o evento itinerante da área com a maior longevidade realizado no país, sempre no mês de julho. Com a disseminação de mais de 500 escolas e cursos pelo país inteiro, os alunos se reúnem neste evento para participar de conferências, workshops, minicursos e exposições de trabalhos onde trocam suas experiências de aprendizado, em um numero de mais de 2000 participantes em média. Para organiza-lo foi criado um conselho o CONE, que se constituiu como uma associação estudantil, de representatividade nacional.

O curioso é que não há uma transferência deste envolvimento intenso dos estudantes, quando se tornam profissionais. Poucos se associam às associações existentes enfraquecendo assim a representatividade profissional,...infelizmente. Como as associações tem altos e baixos há sempre uma associação da vez, uma que funciona “melhor”do que as outras, atraindo assim o interesse de um grupo de profissionais que a ela se associam, relegando as outras a segundo plano. Tivemos desde os anos 80 o “reinado” da ADG Associação dos Designers Gráficos, o da AEnD Associação de Ensino de Design e agora temos o da ABEDESIGN Associação Brasileira das Empresas de Design. Além disto temos algumas associações menores e de âmbito restrito ou regionais, com por exemplo, a ADP Associação do Designers de Produto, a ApeDesign Associação Profissional dos Designers do Rio Grande do Sul, a ADEGRAF Associação dos Designers Gráficos do Distrito Federal, dentre outras. Todas padecem do mesmo problema, poucos sócios efetivamente participantes, pouca arrecadação e baixa atividade. Todas têm pouca ligação com os estudantes, que poderiam e deveriam ser seus futuros sócios, garantindo assim presença e representatividade junto a sociedade. Afinal nós designers existimos para servir a ela!

Isso precisa ser urgentemente revertido, com reflexos diretos na sobrevivência da profissão e dos profissionais. Uma organização forte e coesa do design pode render frutos à profissão nunca dantes imaginados. Além de, eventualmente, podermos reivindicar incentivos como carências ou redução de impostos, poderemos nos proteger quanto a uma eventual entrada de mão de obra vinda do exterior, já que há uma crise evidente cercando os países desenvolvidos. Ë possível que, com o desenvolvimento de nossa economia nos tornemos alvos de designers, vindos destes países ou mesmo de nossos “hermanos” vizinhos, tão talentosos quanto "nosotros".

Ainda teremos a questão do retorno para o associado. Esta é uma questão ainda por resolver, pois além da posição política as associações devem promover algum beneficio para atrair e manter seu quadro de associados estável. A ADG por muitos anos promoveu com sucesso as exposições bienais de design gráfico, o que nestes anos fazia crescer os seus associados adimplentes. Há outras ofertas possíveis e já tentadas, como planos de saúde, descontos em compras profissionais, publicações e aconselhamentos , assistência legal e jurídica, festas e comemorações, cadastros de profissionais e de portfólios, sem falar em sites e news letters de interesse específico e geral. Há vários casos de organização de concursos, endosso a eventos e interlocução governamental onde as associações têm promovido sua participação junto a sociedade e a classe.

Ainda temos essa pulverização entre associações especialistas e regionais ao invés de uma grande associação nacional. Sou da opinião que isso deve ser mantido por algum tempo, até a consolidação deste processo de fortalecimento. É melhor termos pequenas associações atuando de forma consistente do que uma grande associação com risco de sobrevivência por falta de associados. Nos outros países há uma tendência das associações especialistas se unirem, independente da área de atuação, o que vem acontecendo progressivamente também com as entidades mãe, ICSID, ICOGRADA e IFI, que já se utilizam de uma sede única, promovem congressos em conjunto e praticam um código de ética em comum.

Os designers brasileiros tem que se conscientizar que formam um corpo profissional, e que ao serem diplomados passam a fazer parte de uma classe que contribui para a melhoria da qualidade de vida do pais e de sua população. Essa classe precisa de respeitabilidade política, se fazer presente ante as instituições publicas ou privadas, especialmente neste momento em que temos um novo projeto de regulamentação em tramitação no Congresso.

Designers, unam-se, associem-se ou seremos tragados pelas circunstâncias, sem dó nem piedade!

É chavão mas ...“unidos jamais seremos vencidos!”

Texto não publicado

terça-feira, 26 de abril de 2011

A destruição das marcas brasileiras

O Brasil carece de marcas tradicionais e de renome internacional. Há alguns exemplos de marcas que transcendem nosso país ou cultura, mas não na proporção necessária a um player de nosso nível no mercado mundial.


Havaianas, H Stern, Vale, Marcopolo, Embraer, Grendene, O Boticário, Petrobrás, Itaú, 51, Brahma, Rock in Rio, Sadia são alguns dos bons exemplos de marcas que conseguiram ultrapassar nossas fronteiras e ter algum reconhecimento no mercado mundial, como associadas a nosso país. No entanto ainda estamos longe da repercussão que nossos amigos coreanos adquiriram com suas marcas, quase que desconhecidas a duas décadas atrás. Hoje temos diariamente em nossos jornais anúncios de pagina inteira promovendo e comparando produtos coreanos da Hyundai com produtos da alemã BMW e se dizendo melhores, por exemplo. Estes produtos inundam os mercados mundiais incluindo o nosso. Nos anos 60 a economia coreana, suas marcas e seus produtos eram inferiores aos brasileiros. Então o que aconteceu? Sem entrar no mérito dos coreanos, analisaremos o que houve deste lado do hemisfério em relação às marcas.


Sempre tivemos um olhar colonizado para produtos e marcas, sempre valorizamos o que vinha de fora, independente de sua qualidade. Nunca fomos conscientes de que nossa cultura de marca valesse alguma coisa. A valorização do que vinha de fora sempre suplantou nossas origens. Fora algumas cidades, os nomes indígenas, por exemplo, são raramente adotados em qualquer aspecto de nossa economia. Já os estrangeirismos, especialmente de origem européia, são muito comuns. Os nomes americanizados também são comuns, especialmente em certas regiões do país onde são dados ate ás nossas crianças. No nordeste, por exemplo, a profusão de Daisys, Robertsons, Jailsons e outros “..sons” sempre são muito comuns.


Entretanto temos e já tivemos marcas de tradição que se estabeleceram por décadas, promovendo serviços e produtos de qualidade na economia brasileira. Estas marcas sobreviveram durante anos de subdesenvolvimento, de ditadura, de inflação desenfreada, de juros altos, de abertura da economia sem critérios. Foram se submetendo as regras do mercado, que as fizeram sucumbir à falta de gerenciamento, a fusões incentivadas com multinacionais e a aquisições agressivas só com o objetivo de retirá-las do mercado. Em nome das regras do mercado perdemos marcas como Cobra, Gradiente, Gessy, Gurgel, Jornal do Brasil, Kolinos, Labo, l’Atelier, Mesbla, Oca, Polivox, Puma, Rima, Sendas, Scopus, Unitron, Varig, VASP, Vemag, Willys, Zivi Hercules, dentre outras.


Sabemos que todo produto, empresa ou evento comercial ou industrial tem uma marca. Ela pode ser tradicional, com muitos anos de existência ou pode ser uma marca inteiramente desconhecida. A marca pode ser solida, com significado e identidade ou pode ser anônima sem nenhuma relação com o mercado onde ela atua. Uma marca é algo difícil de ser estabelecida, pois leva tempo, esforço e naturalmente divulgação. A marca quando estabelecida em uma determinada área é difícil de ser modificada. Uma marca tem sempre um significado de experiência emocional e de valor. Para exemplificar suponha o lançamento de um uísque de primeira linha com a marca de uma cachaça popular... Não daria certo com certeza. São conhecidas marcas que transmitem a imagem de produto esportivo, de produto sofisticado, de produto de alta qualidade. É sempre a marca que determina a imagem do produto, sendo difícil a situação inversa. No Brasil mesmo os segmentos mais óbvios, como o do café, por exemplo, carecem de marcas de expressão internacional, pelo simples fato de nunca terem sido implantadas. Como exportadores de commodities nunca nos preocupamos em estabelecer marcas de varejo com um viés internacional de personalidade. Mesmo tendo disponível um excelente design gráfico alem de uma publicidade de alta qualidade.

A marca Walita, tradicional em eletrodomésticos, comprada há alguns anos pela Philips, esta sendo lentamente desmobilizada, neste momento, tendo seu nome justaposto e brevemente substituído pela da multinacional. A Varig foi adquirida pela Gol, mas está sendo obviamente relegada a segundo plano, apesar de seu imenso patrimônio de qualidade e de tradição na aviação. Não temos, da mesma forma, uma única marca nacional de automóveis, mesmo sendo grandes fabricantes de veículos e por não termos uma política de preservação de nossas marcas notórias estamos assistindo a uma verdadeira destruição da identidade das marcas brasileiras.


Brevemente não teremos mais marcas nacionais pelas quais torcer, nem teremos mais lembranças de marcas brasileiras que nos acompanharam pela vida toda. Temos que reverter esse processo, com urgência por meio de uma política de estado que tenha a função de preservar nossas marcas, de valorizar nossas marcas notórias, nossos símbolos de identidade.


A marca é o maior patrimônio de uma empresa, frase cunhada pelo mundo empresarial e repetida inúmeras vezes por todos que discutem o assunto. O Brasil está perdendo a batalha pelo seu patrimônio de marcas, por não ter uma visão abrangente de como manter o valor de sua identidade empresarial.


Necessitamos que isso seja revertido em breve!

Texto não publicado - Abril 2011

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

CNAE do Design – Uma luz no final do túnel?


Recentemente por uma portaria do IBGE foi instituído um numero de CNAE para a atividade Design. O CNAE é o Código Nacional de Atividade Econômica, que é dado a todas as atividades exercidas pelas pessoas jurídicas e serve às delegacias da Receita Federal do Ministério da Fazenda para classificar empresas constituídas e caracterizar suas atividades especificas, no CNPJ, em todo o país.

Para a atividade de “Design” o CNAE é 74.10-2/01 e compreende as atividades de "Design de Produtos". Para a atividade de “Design Gráfico e diagramação” o CNAE é 74.90-1/99 e compreende as atividades de programação e comunicação visual. Para a atividade de “Design de interiores” o CNAE é 74.10-2/02 e compreende as atividades de decoração, ambientação e design de interiores. Para a atividade de “Web Design” o CNAE é  62.01-5/00 e compreende as atividades de tudo o que se refere ao uso da internet, como ela é entendida nos dias de hoje.

Mal ou bem isso vem colocar um pouco de ordem na nossa área de atuação, já que por não sermos uma profissão regulamentada, eram constantes as dúvidas como classificar as atividades do design. Durante mais de 40 anos fomos classificados como desenhistas técnicos, como publicitários ou como decoradores, o que deu margem a inúmeros erros de classificação fiscal dependendo de como o delegado local da Receita interpretava a atividade da empresa, que constava em seu contrato social.

A atenção sobre este assunto foi despertada pela exigência do BNDES, em meados de 2010, pelas empresas que se cadastraram como usuárias de Cartão BNDES, para financiamento ao design, com a exigência de que elas tivessem o CNAE 74.10-2-01. Isso porque o BNDES tem a intenção de prestigiar e privilegiar o Design de produtos, criando assim uma insatisfação com as empresas que prestam serviços de design gráfico ou de web, por exemplo. Como se sabe em nosso país é difícil ter empresas de design muito especializadas, já que nossa economia instável requisita sermos flexíveis em nossa oferta de serviços. Todos fazemos de tudo um pouco!

O interessante é que muitas empresas que se dedicavam a design de produtos não possuíam este CNAE, mesmo tendo a descrição precisa da atividade no seu contrato social, já que foram constituídas antes desta definição. Outras empresas eram, por exemplo, escritórios de arquitetura e que praticavam o design com competência, mas sem o CNAE respectivo. Todos tiveram, ou terão, que se recadastrar e assim se enquadrar nas novas exigências para poder serem autorizadas pelo BNDES.

A partir daí haverá uma tendência em se utilizar, cada vez mais o CNAE como elemento balizador da nossa atividade em concursos, em concorrências abertas ou fechadas especialmente no âmbito do poder público. Poderá ser feita assim uma triagem das empresas destas especialidades, em pesquisas ou estatísticas, para concessão de incentivos fiscais, por exemplo, e com isso caracterizar melhor as especificidades dentro da atividade. É preciso acrescentar que cada empresa pode ter mais de um CNAE, abrangendo assim mais de uma atividade, mas isso terá que ser requisitado pela empresa, desde que as atividades constem explicitamente de seu contrato social.

O uso do CNAE pode finalmente colocar nossa atividade em um trilho comum de qualidade, o que nos beneficiará, eliminado as empresas de outras áreas que cada vez mais invadem a nossa praia. Infelizmente ele só se aplica a pessoas jurídicas, não atendendo as necessidades do profissional isolado, autônomo ou empregado, que ainda carece de uma regulamentação real que o torne um profissional pleno e digno, com todos os direitos e deveres de seus colegas arquitetos ou engenheiros.
Mas pelo menos já é uma luz no final do Túnel!!!

Ref. http://www.cnae.ibge.gov.br  -  atividades profissionais e científicas

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Design e Calamidades!


Desde sua fundação a ESDI, a Escola Superior de Desenho Industrial do Rio de Janeiro teve um interesse marcante, em temas de projetos com fundo social.  Acreditava-se na escola que a contribuição do design nesta área poderia ser preponderante, o que talvez não fosse uma crença muito compartilhada pela sociedade como um todo. Temas voltados para educação, saúde, reabilitação, calamidades, transportes, mobiliário urbano, sinalização publica, foram prática constante nos primeiros anos de funcionamento da ESDI, tanto nos trabalhos curriculares como nos projetos de graduação.

Instituições internacionais ligadas ao design também patrocinavam concursos com estes temas, enfatizando assim a contribuição da área para sua solução. Em agosto de 1976 no concurso patrocinado pelo ICSID “Design for Disaster Relief”, um projeto de um purificador de água portátil, tipo Mochila, executado pelos meus alunos Henrique Meireles, João Quadros Coimbra e Álvaro Milanez Junior, do 3º ano da ESDI, recebeu menção honrosa e foi exibido em exposição itinerante mundial. Vários outros projetos interessantes foram executados pelos alunos na época, mas somente esse foi enviado para o concurso.

Mais recentemente outros alunos da ESDI desenvolveram inúmeros projetos com o tema "Design para Calamidades", sem nenhuma repercussão entre nossas autoridades. Em 1999 em todas as turmas foram desenvolvidos projetos, com tema único, orientados por mim e pelos professores João Bezerra e Luiz Claudio Portugal durante o ano inteiro. Os projetos compreendiam desde Pás, para remoção de entulho, kits de sobrevivência, embarcações e veículos de resgate a sistemas portáteis de comunicação e localização remota com a utilização de alta tecnologia, disponível na época.
Nossos alunos tiveram certa resistência, no inicio, mas logo se engajaram com um entusiasmo único, ao tema também único! Os alunos do 2º ano se espantaram com o tema de redesenhar uma pá e me perguntavam o que se pode fazer em uma pá??? Descobriram rapidinho! Neste caso, a idéia a que chegamos era a de estabelecer uma norma nacional para se ter uma pá junto a cada extintor de incêndio, nos prédios e casas. Equipamentos que esperamos não sejam utilizados, mas se necessários, estariam a postos.

Os alunos em suas pesquisas, tanto em 1976 como em 1999, já indicavam que a única grande catástrofe na área do Rio seriam as enchentes e enxurradas, o que foi confirmado em gerações diferentes! Por isso não dá para entender, nos dias de hoje, porque essa ignorância sobre o assunto pelas autoridades locais por tanto tempo. Ainda mais pelo fato de ter havido fatos predecessores recentes como as inundações constantes em São Paulo, as de Santa Catarina e de Alagoas, repetidas e em um curto espaço de tempo.


Mesmo com entrevistas, consultas e visitas a Defesa Civil, municipal e estadual, não houve interesse por parte das autoridades em nenhum nível. Os resultados de 1999 foram exibidos em uma expo na ESDI e na FIRJAN, junto a outros projetos de faculdades de design do Rio, com alguma repercussão na mídia, mas sem a divulgação ou o interesse que poderiam ter despertado. Houve esforços de nossos professores junto a revistas para publicação dos projetos, mas sem sucesso. Não tínhamos a internet ainda, na ocasião.


O divórcio entre a universidade e as autoridades políticas neste país é evidente. Mas nestas circunstancias isso deve ser revisto com urgência. Estamos falando aqui dos cursos de design, que são de nossa competência, mas há estudos, projetos e boas soluções disponíveis nas faculdades de engenharia, de geologia, de meteorologia, de informática, de medicina, e muitos outros que estão relegados ao esquecimento nas prateleiras das instituições de ensino e pesquisa. Só falta utilizá-los para com isso salvar vidas, dar assistência temporária e assim reduzir nossos custos humanos, dentre outros!

Os projetos de graduação de design na ESDI, como o da Bianca Melo de Carvalho, de “Mobiliário transportável para abrigo temporário” de 2010 e do Marcello Halfeld, a “Sala de Aula transportável temporária para áreas devastadas”, de 2009, que inclusive ganhou o prêmio “Novos Designers” da ADP, demonstra que temos excelentes soluções disponíveis, recentes, mas com a mesma preocupação lá dos anos 70.

Possuímos uma verdadeira reserva de inteligência com soluções adequadas nas gavetas e prateleiras das universidades e faculdades, em todo o país. Tanto para a fase emergencial, para fase de reabilitação como para a fase de reconstrução. São soluções prontas e cujos custos já foram amortizados. É só lançarmos mão delas.
Num país como o nosso não podemos nos dar ao luxo desperdiçar idéias! Com vontade política elas podem poupar vidas e mostrar nossa inteligência!


Texto não publicado. Fotos: Freddy van Camp - Arquivo ESDI



Design e a miopia estratégica

O pais vive nesta virada do ano uma época de euforia, a economia estabilizada, a oferta de empregos, as exportações, as descobertas de petróleo, o IDH, as vendas de natal, estão fazendo todos enxergarem um futuro cor de rosa.

Simultaneamente continua havendo uma visão truncada quanto a nosso desenvolvimento industrial, especificamente no que se refere ao design. Quando foi criado o Programa de Qualidade e Produtividade esqueceram de incluir o design, o que não aconteceu em qualquer outro pais do mundo. Mais tarde criaram o Programa Brasileiro do Design para concertar o erro, uma iniciativa claudicante de governos passados e que mesmo no governo atual nunca conseguiu dizer a que veio. Mais recentemente na divulgação do PAC da Inovação novamente esqueceram do assunto já que no seu texto não há uma palavra sobre design. Falou-se de patentes, de inovação mas o design foi solenemente ignorado, como se ele não fosse parte da tecnologia e da inovação.

O descaso com o design por parte das federações de indústria e do comércio e de nossa classe política beira o absurdo, e nas raras ocasiões onde se manifestam sobre o assunto parecem estar fazendo favor ao design e aos designers. Nossa classe dirigente ignora solenemente o potencial de valor agregado que o design pode trazer para nossa produção, em todos os níveis.

Por outro lado o Design Excellence, uma iniciativa da Apex, que organiza nossa participação no If da Feira de Hannover continua premiando o design brasileiro no exterior, além de outros 30 concursos regulares de design, dão visibilidade de inegável qualidade ao design nacional. Apenas as indústrias multinacionais e algumas empresas nacionais mais iluminadas tem se beneficiado da qualidade do design nacional, o que também atesta nossa capacidade na área. Apesar disso não encaramos o design como um fator estratégico do desenvolvimento industrial, como o fazem Coréia, a China, e o Japão mais recentemente e a Alemanha, Itália, o Reino Unido e os paises escandinavos na metade do século passado.

Até quando o governo vai ignorar o design como estratégia? Até quando o pais vai teimar sistematicamente em não utilizar deste instrumento de desenvolvimento? Até quando vamos dispensar o fator de geração de valor agregado mais barato e eficiente que existe? Até quando vamos deixar de nos beneficiar de utilizar o design como fator de melhoraria de nossa produção e de nossa qualidade de vida?

A maioria do empresariado de capital nacional precisa corrigir sua miopia crônica em relação ao design. Necessitamos com urgência de uma verdadeira cirurgia para eliminar a miopia estratégica a respeito do design em nossa classe dirigente e em nosso meio produtivo. Não há óculos que dê mais jeito!!

Texto publicado no Site http://www.abedesign.com.br/
05.2008



O legado de José Carlos Bornancini (1923-2008)

Quem não tem ou teve um produto desenhado por Bornancini em casa? Uma tesoura Ponto Vermelho, uma faca Corte Laser, uma garrafa térmica Termolar ou quem sabe foi alimentado pelos pais com o Talher Criança.? Quem valida seu Cartão nos ônibus do Rio de Janeiro e de outras cidades, não deve saber que diariamente entra em contato, até por mais de uma vez, com um produto desenhado por este pioneiro do design brasileiro.

Este engenheiro por formação, professor e designer por opção conseguiu nos demonstrar que o design brasileiro tem qualidades, respeitadas inclusive no exterior, muito antes de termos profissionais aqui formados e antes ainda da atual fase de reconhecimento pela qual, afinal, estamos passando. Sozinho, com seu sócio ou liderando equipes, desde os anos 50, conseguiu superar as resistências atávicas do industrial de capital nacional (e multinacional) a melhorar seu produto com um projeto coerente, racional, ergonômico e também belo quando era necessário, isso sempre sem cópia. Ao contrario demonstrou que o nosso produto por ser bom, pode ser copiado, já que teve inúmeros casos de contra-facção de seus projetos inclusive na Alemanha, berço histórico do bom design.

Bornancini e Nelson Petzhold estiveram na ESDI em maio de 2003 e proferiram a aula inaugural onde falaram de seu trabalho, enfatizando o uso da percepção visual, o foco na inovação e na coragem de inovar, como forma de contribuir para um mundo melhor.

Bornancini nos deixou, no dia 24 de janeiro. Com ele se foram muitas boas idéias, muitos ensinamentos, a companhia sempre agradável de uma verdadeira unanimidade, e algumas das mais divertidas tiradas sobre nós mesmos e nossa sociedade.
Bornancini nos deixou a crença que, se tudo que ele realizou em sua época foi possível, será possível levarmos o design brasileiro no futuro ao respeito que ele merece, mas sem nunca perder o humor!

Foi uma honra e um privilegio enorme termos convivido com Jose Carlos Bornancini.

Texto publicado no newsletter "Sinal" http://www.esdi.uerj.br/sinal - Janeiro 2008

Um Design Onírico?


Em uma segunda feira de sol radiante eu me preparava para subir no avião com destino a São Paulo e me perguntava porque estávamos ali na pista, quando todos os “fingers” do Santos Dumont, recém reformado, estavam ociosos. Perdoei o fato pelo sol de outono que tínhamos a nosso dispor, sabendo o tempo que iria encontrar na capital paulista. Me ajeitei na poltrona do corredor que sempre utilizo quando um senhor, elegante e bem vestido, me pede licença para sentar na poltrona da janela destinada a ele.

O avião levanta vôo e admiramos a paisagem esplendida do Rio em sobrevôo matinal, que sempre deixa qualquer um de boca aberta. O senhor me da um sorriso e faz um comentário sobre o design da cidade, o que me apresso a concordar pois este é meu terreno. O design e o Rio. Faço alguns comentários sobre a qualidade do nosso design, ele me pergunta o que faço e relato brevemente minha atuação de meio designer e meio professor. Ele me diz que a sua empresa se utiliza muito do design e se apresenta como Manuel, de sobrenome indecifrável, presidente da GM do Brasil.

Admirado me animo com a conversa, já que conheço o departamento de design da empresa, onde por coincidência, trabalha um ex-aluno nosso e com os quais tivemos vários contatos. Até desenvolvemos no passado projetos em conjunto com nossos alunos, com suporte da empresa , como um interessante projeto de interior de automóvel destinado ao publico feminino. Somos interrompidos pelo serviço do micro lanche do serviço de bordo e comento que já tivemos dias melhores na Ponte Aérea. Ele ri e menciona que sabíamos administrar e contornar melhor a escassez típica de um país em desenvolvimento.

A conversa continua animada e pergunto por projetos atuais, nestes tempos de crise, de escassez de recursos, de excesso de cautela, de paralização de idéias. Ele me responde que estamos numa época de expectativas, enrola um pouco o papo e percebo que não pode revelar idéias corporativas. Para enfatizar meus argumentos, e dar uma de cara informado, relembro a ele que o departamento de design da empresa dele já teve atuação destacada em projetos de sucesso, como o Celta e o Prisma, por exemplo, que são projetos inteiramente nacionais e que até geraram um novo modelo de produção. Relembro a frente do projeto Sabiá, uma “pickup” conceitual apresentada em salões do automóvel internacionais e que foi aplicada em toda a linha Opel, da época. Falo das sucessivas remodelações da linha Corsa e Astra bem como de outros projetos pontuais que sustentam a imagem da empresa no Brasil e no exterior além do excelente estúdio de realidade virtual que possui atualmente.

Animado, faço ainda algumas considerações sobre designers brasileiros de empresas concorrentes, como a Volkswagen e da Fiat que atuam com sucesso no exterior e de novos players no mercado brasileiro, como os franceses que recentemente estabeleceram centros de design no Brasil. Ele se mostra impressionado com o meu entendimento do assunto e concorda com a nossa eficiência em termos de design automobilístico. Eu, meio bobo com meu desempenho, começo a extrapolar e coloco em questão o fato de não entender porque não temos uma montadora de capital verdadeiramente nacional, onde o design brasileiro fosse reconhecido, plenamente. Ele então, não se contendo, se aproxima de mim, por sobre a poltrona do meio vazia, e me confidencia em voz baixa que talvez estivéssemos próximos disso naquele exato momento. Dá a entender que a filial nacional da GM esta para ser vendida a um forte grupo nacional, neste processo de concordata que a GM americana está vivendo. Sem ser muito explicito dá a entender que está indo negociar o fato naquele dia. Eu o encaro meio atônito por ter me revelado este segredo e fico cheio de esperança, imaginando que nosso design automobilístico finalmente poderá ter o reconhecimento que os japoneses, os coreanos ou mesmo os recém chegados indianos e chineses, tem, mesmo tendo começado muito depois de nós.

Nos aproximamos de São Paulo e o aviso dos cintos e dos aparelhos eletrônicos proibidos ecoa pelo avião. Trocamos cartões e finalmente vou decifrar aquele nome inaudível lá do começo. Quando fixo meus olhos míopes no cartão, percebo estar sem óculos e começo a ouvir um ruído estranho e persistente.

Me assusto muito pois parece um ruído de emergência e a repercussão de uma tragédia aérea recente ainda está presente na memória. Descubro ao mesmo tempo aliviado e decepcionado que é o meu celular me despertando para um novo dia de trabalho onde vou encarar mais uma turma de alunos, tendo que convencê-los que fazer design no Brasil vale a pena. Será um sonho? Coloco os óculos e me levanto, como faço todas as amanhãs.

Texto não publicado - Junho 2009